A chuva da noite anterior ainda estava presente, não mais nos pingos, mas no cheiro — molhado, terroso, vivo. A Casa respirava devagar, como quem acorda depois de um sonho que não sabe se quer esquecer ou lembrar para sempre.
Clarice vestia uma blusa leve, quase transparente sob a luz filtrada da manhã. Andava descalça pelo corredor de madeira antiga, cada passo ecoando sutil. Parou na porta do quarto que fora de Arthur.
A maçaneta ainda guardava o calor das mãos dele. Não era imaginação — era memória sensorial, como um perfume que insiste em ficar na pele. Ela abriu devagar. O quarto estava arrumado. Quase frio. Mas havia algo: uma dobra no lençol, uma marca de corpo sobre o colchão, e no parapeito, outra tira de pano esquecida.
Clarice a tocou com os dedos e sentiu um arrepio que não vinha do vento. Desdobrou o tecido.
“Você sabia, Clarice. Desde o começo. Que não era só passagem.”
Ela fechou os olhos. Sabia. Sempre soube. Mas escolher sentir com o corpo era diferente de saber com a