O sol atravessa as cortinas do quarto e desenha linhas douradas sobre o lençol branco.
O ar tem aquele cheiro frio de hospital — limpo demais, quase sem vida —, mas há uma doçura tímida se misturando à luz.
Talvez seja só esperança.
Ou talvez seja ele.
Alec dorme outra vez, deitado de lado, o rosto voltado pra janela.
O soro pinga lento, o monitor respira por ele, e eu fico observando cada movimento como quem tenta aprender o ritmo de uma música nova.
O peito dele sobe e desce com um esforço discreto, quase bonito.
A manhã ainda não terminou, mas o tempo aqui dentro parece diferente, suspenso.
Cada segundo tem peso de lembrança.
Na mesinha ao lado da cama, a folha dobrada repousa — o papel amarelado que o Maikon me entregou na noite anterior.
“A lista da vida que quero viver enquanto eu tiver tempo.”
A caligrafia infantil, as letras trêmulas.
Um menino de dez anos tentando dar forma ao medo.
Passo os dedos sobre o papel, sentindo o relevo da tinta.
É quase como tocar o passado dele —