O silêncio do restaurante era tão pesado que Ian podia ouvir o som do próprio coração, irregular, como se não encontrasse ritmo. O cheiro de café fresco preenchia o ar, misturando-se a lembrança vivida de manhãs ao lado do seu pai, bem ali, mas agora essa lembrança doía como punhaladas.
— Desde antes de você nascer. — Nicolau repetiu, a voz calma, sem remorso e Ian arregalou os olhos assim que aquelas palavras saíram da boca do avô.
Ao fundo: o café esfriava devagar sobre a mesa, soltando uma fumaça tênue que se dissipava no ar do restaurante quase vazio. O lugar ainda carregava o silêncio da madrugada anterior. Apenas o som distante de talheres em outras mesas, o tilintar do relógio na parede e o coração de Ian batendo rápido demais.
— O quê? — Ian arfou, completamente confuso.
Ian recostou-se na cadeira, o peito em chamas.
— Isso é um jogo? — a voz saiu mais grave do que pretendia. — Porque se for, é cruel até para você.
Nicolau encostou-se na cadeira, sereno, como quem joga uma bom