A sala estava mergulhada em penumbra. Apenas a luz amarelada do abajur sobre a mesa iluminava parte do rosto de Benjamin, deixando o resto submerso em sombras. Ele parecia um homem destroçado, a gravata frouxa, o paletó aberto, o copo de uísque derramado no tapete, o corpo afundado no sofá como se não houvesse mais forças para se sustentar.
Os olhos marejados refletiam uma dor que ele não deixava transbordar. Mas ela estava ali, escancarada.
Incompatível.
A palavra martelava em sua mente como um tambor de guerra.
Até que os passos ecoaram.
Clara.
O som dos saltos ressoando pelo mármore partiu o silêncio como pequenas facas. Ela surgiu na sala como quem não pertencia àquele ambiente pesado, impecável, radiante, a maquiagem intacta, o vestido abraçando cada curva como se tivesse acabado de sair de um baile. O perfume doce espalhou-se pelo ar, sufocante.
Benjamin ergueu os olhos, com raiva e alívio misturados. A raiva de quem se sente abandonado, o alívio de não estar mais sozinho naquel