O corredor branco do hospital parecia esticar-se infinitamente. O brilho das lâmpadas era cruel, refletindo no piso encerado como se quisesse expor cada sombra, cada detalhe. O bip distante de máquinas, o roçar dos sapatos de enfermeiros e o eco de vozes apagadas davam ao espaço a sensação de ser menos um hospital e mais um tribunal silencioso, onde o tempo julgava os vivos. Um cenário dolorosamente irreal.
Nicolau estava ali, imponente, como se não pertencesse aquele espaço, ou como se o espaço tivesse sido moldado para ele. O velho Moretti encostava-se a bengala com uma tranquilidade quase cruel, o olhar passeando de Ian para Olivia como quem assiste um espetáculo privado em um silêncio sufocante.
Ian estreitou os olhos, rompendo a tensão com uma voz baixa, porém cortante:
— Agora não é hora para seus enigmas, avô. O que veio fazer aqui?
Nicolau arqueou uma sobrancelha, um sorriso breve e enigmático surgindo em seus lábios.
— Qual o problema em visitar o hospital que eu mesmo fundei