O escritório de Nicolau parecia mais sombrio naquela noite. Sempre parecendo maior do que realmente era. Talvez fosse o silêncio pesado, as paredes forradas de madeira escura e aquele odor de charuto que parecia nunca desaparecer.
As cortinas pesadas fechavam o mundo lá fora, deixando apenas a luz baixa do abajur e o cheiro de charuto queimado pairando no ar.
Ian estava de pé, imóvel, diante da mesa maciça do avô, as mãos nos bolsos, o rosto controlado como uma estátua de mármore. Mas por dentro, os músculos dele queimavam. O corpo rígido, pronto para explodir.
Nicolau, sentado atrás da mesa de mogno, em sua poltrona de couro, tamborilava os dedos lentamente sobre a superfície polida. Cada batida parecia o som de um relógio, marcando não as horas, mas a paciência que se esgotava. Marcando um julgamento inevitável.
— Sabe o que mais me revolta, Ian? — a voz dele soou grave, pausada, como um juiz antes da sentença. — Em setenta e seis anos… setenta e seis… a polícia nunca, jamais, ousou