Do telhado do armazém adjacente, o vento do rio cortava como uma lâmina. Ian estava deitado de bruços, os olhos colados ao visor de um dispositivo de visão noturna. No ouvido, cada palavra da confissão de Helena chegava com clareza cristalina através do pequeno transmissor que Olívia carregava.
O choque foi uma onda de gelo que paralisou seus músculos.
Helena, mãe de Olívia. Alexander, primo dela. Diana, assassinada a mando Nicolau. Seu próprio avô, um monstro.
Cada revelação era um golpe no edifício de certezas que sustentava sua vida. A raiva que o consumira desde a noite anterior não diminuiu — ela se transformou. Não era mais um fogo selvagem. Era um frio nuclear, concentrado, letal. A mulher que ele amava era filha da mulher que arquitetou a queda de sua família. E ela estava lá, no coração do covil, com seu filho.
Quando Helena fez a oferta — fuga ou vingança —, Ian sentiu uma pontada de algo que o surpreendeu: concordância. Por um instante fugaz, brutal, ele viu a lógica cruel