O silêncio após a última frase de Vitório parecia vivo, pulsante, quase tangível.
O som distante da chuva batendo nas janelas se misturava ao zumbido do ar-condicionado, o único ruído entre os três homens que tentavam processar o que haviam acabado de ouvir.
Ian piscou lentamente, como se o próprio cérebro se recusasse a decifrar as palavras.
Então ele se inclinou para frente, a voz rouca e cortante:
— Você sabe que eu não tenho filhos, Vitório.
O advogado não desviou o olhar.
Seu rosto estava sereno, mas havia algo por trás; uma hesitação quase imperceptível, como se equilibrasse um segredo sobre a ponta da língua.
— Estou apenas lendo o que Nicolau escreveu — respondeu, em tom neutro. — Ele foi muito claro sobre isso.
Ian riu; um som sem humor, amargo.
— Claro. Nicolau sempre foi claro. O problema é que ele falava em enigmas, como se a vida fosse um tabuleiro e nós, suas peças.
Ele se levantou abruptamente, circulando a sala como uma fera presa em jaula.
— O que isso significa, entã