A música continuava lá fora, um pano de fundo quase irreal, um sopro de festa que tentava esconder o que acontecia por baixo da superfície. Ian sentia cada nota como uma ironia: violinos afinando para a celebração enquanto dentro dele tudo afinava para outra atmosfera, mais densa, mais perigosa.

Olivia sumira. Não fisicamente, não de vez, mas havia se esvaído de sua vista alguns minutos antes, atravessando sombras do jardim onde ele não tivera tempo de alcançá-la. E isso bastava para que algo nele, rígido e pontudo como aço, se tornasse ainda mais intratável. Numa vida construída de prazos, contratos e riscos calculados, a única coisa que não tolerava era ser burlado por incertezas que vinham dela.

Andou pelo jardim com passos curtos e precisos, cumprimentando rostos, apertando mãos que não importavam. Cada sorriso forçado era uma armadura, cada palavra exata uma peça de teatro que ele desempenhava melhor que qualquer outro. Mas no instante em que cruzou com o olhar de Carla de longe,