POV: DanteO cheiro de sangue era algo que eu aprendi a ignorar ao longo dos anos. Mas o dela… o dela me dilacerava.Helena estava deitada na maca, pálida, frágil, com tubos saindo do nariz e agulhas cravadas nas veias como se estivessem tentando costurar a vida de volta nela. A bala tinha atingido seu abdômen, perto demais do bebê. Quase demais.Meu peito doía de um jeito que eu não sabia que era possível. Não de um jeito físico. Era como se meu coração tivesse sido arrancado e jogado ao chão, batendo contra o mármore frio da realidade.Arthur estava morto. E eu não me arrependia.Mel tinha fugido — a vadia covarde. Mas isso era problema pra depois. Agora, tudo que importava era ela.Helena.A mulher que eu deveria ter protegido desde o primeiro segundo. Que eu deveria ter tirado daquele inferno muito antes de tudo dar errado. Agora, ela lutava pra sobreviver… e era por minha causa.Eu afastei os médicos quando tentei entrar na sala de cirurgia, mas Léo me segurou pelos ombros. Pela
POV: HelenaA claridade branca do hospital queimava meus olhos, mas era um alívio saber que ainda podia senti-la. Minha barriga doía, e um peso morno repousava sobre ela — o curativo, talvez. Estava viva. Meu bebê também.Mas a lembrança do tiro, do desespero, do rosto do Dante gritando meu nome… aquilo ainda me atravessava como uma lâmina.Ouvi passos. Respiração contida. Meu coração acelerou.— Helena?A voz dele. Rouca, ferida, quebrada. Mas inconfundível.Abri os olhos devagar, e lá estava ele. Dante. Com os olhos marejados, o maxilar travado e as mãos cerradas como se estivesse segurando o próprio mundo para não desmoronar. Ele parecia cansado, sujo de sangue seco — o meu? — e com uma sombra de culpa cobrindo seu rosto.— Você voltou — sussurrei, a voz fraca.Ele se aproximou da cama, sentando ao meu lado com cuidado. Seus dedos tocaram os meus, com uma delicadeza que me desmontou.— Eu nunca fui embora, Helena. Eu… — ele respirou fundo — eu achei que te perderia. E isso me destr
Cinco dias haviam se passado desde que Dante me tirou daquele cativeiro. Desde que eu quase morri com uma bala atravessando meu corpo. Desde que ele disse que me amava, pela primeira vez, com a voz embargada e os olhos molhados. Desde que ele me levou pra casa dele — agora, nossa casa.Dessa vez, eu não estava apenas de visita. Não era mais a garota que se perdia no mundo perigoso de Dante por impulso. Eu fazia parte dele. Da vida dele. E carregava, dentro de mim, o nosso filho.O carro me deixou na porta da mansão. A fachada imponente não me intimidava mais. Era como se tudo ao redor tivesse sido transformado com o tempo. Talvez por ele. Talvez por nós dois. Respirei fundo antes de girar a maçaneta.Assim que entrei, fui recebida por uma mulher mais velha, de uniforme branco impecável, que sorriu gentilmente.— Bem-vinda, senhorita Helena. O senhor Dante nos avisou da sua chegada.— Só… Helena, por favor. E obrigada — respondi, sorrindo de volta.Mais dois funcionários vieram me ajud
POV: HelenaEu estava sentada à mesa, observando as velas dançando na luz suave do jantar. Salvatore Bellini, sempre imponente e seguro, estava à minha frente, como se estivesse me analisando. Sua casa, grande e luxuosa, exalava riqueza, mas também uma certa frieza. Ele não era como Dante, que, apesar de sua dureza, tinha algo de calor humano escondido sob aquela fachada. Salvatore, ao contrário, sempre parecia distante, quase calculista.A conversa estava fluindo lentamente, e eu tentava me manter concentrada nas palavras que ele dizia.— Helena, — ele começou, depois de dar um gole de vinho tinto — sei que você tem um futuro brilhante pela frente, mas há algo que eu quero te oferecer.Pisquei, desconcertada. Eu não esperava uma proposta tão direta.— O que quer dizer? — perguntei, tentando disfarçar o nervosismo.Salvatore sorriu de forma sutil.— Como advogada da nossa família. Não nos envolvemos só com os negócios escusos, Helena. Temos algumas operações legais, muito lucrativas,
POV: DanteEu cheguei à boate antes de a música começar a ecoar, o que era raro. O lugar, como sempre, estava em uma calma silenciosa, esperando o caos da noite chegar. As luzes ainda não estavam acesas, e o cheiro de cigarro e álcool não preenchia o ambiente ainda. Quando entrei, fui direto para a área dos bastidores. Léo estava encostado no balcão, rindo de alguma piada que eu não conseguia ouvir direito.E ela estava ali. Helena.Sentada no banquinho, com as mãos apoiadas na barriga, os olhos brilhando enquanto ria de algo que Léo havia dito. Vi seu sorriso aberto, genuíno, o tipo de sorriso que ela só dava quando estava à vontade, e aquilo me pegou de surpresa. O simples fato de ver ela tão confortável com Léo, tão relaxada, me fez sentir um peso no peito.Eu sempre soube que Léo era leal, mas ver a maneira como ele a olhava… Eu não gostava. Eu não gostava nem um pouco.Ajeitei a gravata, tentando não mostrar o quanto meu temperamento estava começando a se esquentar. Eu tinha a im
Eu não estava ali por acaso. Também não estava por coragem. Eu só queria esquecer.Era o tipo de lugar que minha mãe detestaria — luxuoso, decadente e com cheiro de pecado. A Boate Verona era conhecida por atrair milionários entediados, empresários corruptos e os tipos de homens que não se acham no Google. Mas pra mim, naquela noite, era o esconderijo perfeito. Depois de pegar o Arthur com outra na cama que eu pagava, eu só queria uma bebida forte e a sensação de que eu ainda era dona de mim.O ambiente era envolto em veludo vermelho, luzes âmbar filtradas por lustres de cristal, e uma trilha sonora que misturava jazz moderno com batidas eletrônicas sutis. O bar, todo em mármore preto com detalhes em dourado, parecia saído de um filme de gângster.Me aproximei e pedi um uísque duplo. A bartender me olhou de cima a baixo, surpresa. Uma mulher bem-vestida, sozinha, pedindo dose dupla como se precisasse daquilo pra não desmoronar.— Duro dia, princesa? — a voz veio de trás. Grave, leveme
Acordei com a cabeça latejando e um gosto amargo na boca. Não sei se era o uísque ou o arrependimento. Talvez os dois.O quarto do hotel era pequeno, mal iluminado e com cheiro de cigarro impregnado nas cortinas. Uma versão decadente da liberdade que eu tanto buscava. Me espreguicei na cama e tentei não pensar em Dante. Mas era inútil. A memória dele estava impressa em mim como uma tatuagem invisível — o olhar selvagem, a presença imponente, o jeito como parecia me despir com os olhos sem precisar tocar.Aquele homem não era só atraente. Ele era… hipnótico.Tentei lembrar dos detalhes. O terno escuro, perfeitamente alinhado ao corpo forte. A maneira como os outros na boate pareciam abrir caminho para ele. Ninguém se aproximava demais. Ninguém ousava questionar. E quando Léo murmurou o nome Dante com aquele respeito quase temeroso, algo em mim se acendeu.Quem diabos era ele?Me obriguei a sair da cama e encarar o dia. Uma garrafinha de água, duas aspirinas e um café preto depois, segu
O tempo passou como uma névoa espessa e pesada. Os dias se arrastaram entre a faculdade, os compromissos e a rotina que, de alguma forma, me afastava de tudo o que eu queria evitar. Ou talvez, mais precisamente, de tudo o que eu queria entender. E Dante… ele não saía da minha cabeça.Às vezes, parecia que ele me perseguia. Eu o via em todos os cantos, no modo como o vento fazia a capa do meu casaco se mover, no brilho metálico dos carros estacionados na rua, no toque sutil de alguém passando por mim, quase tocando. Ele me rondava, mas de uma forma silenciosa, quase imperceptível. E isso me deixou obcecada.Tentei seguir com minha vida. Dei a desculpa de estar ocupada para evitar sair e encontrar Léo, que, por mais simpático, não conseguia apagar a marca de Dante. Nem que eu tentasse — e tentei.Mas o universo parecia ter seus próprios planos.Foi numa terça-feira que, ao sair da faculdade, o vi novamente. No mesmo lugar, com a mesma postura. A presença dele era ainda mais imponente, m