Fiquei sozinha de novo.O silêncio do quarto de hospital parecia mais alto depois que Dante saiu. Eu tentava não chorar, tentava fingir que estava tudo bem. Mas por dentro, era só ruído. Um grito surdo preso na garganta.O monitor apitava em intervalos regulares, como se me lembrasse de que eu ainda estava viva. Mas só o que eu queria era viver com ele. Por ele. Porque mesmo que Dante dissesse que era perigoso, eu sabia — a verdadeira ameaça era não ter ele por perto.Minhas mãos tremiam levemente sobre o lençol. E antes que a solidão afundasse de vez, ouvi um som familiar: passos. Leves, apressados. A porta se abriu de novo.— Helena? — Era minha mãe.Ela entrou com aquele olhar entre o susto e a reprovação. Estava com os cabelos impecáveis, mas os olhos cansados denunciavam que não dormia há dias.— Meu Deus, o que aconteceu com você? — Ela veio até mim, tocando meu rosto com dedos frios e preocupados. — O hospital me ligou… você poderia ter morrido!— Mas não morri — murmurei, tent
A boate Verona seguia pulsando como sempre — luzes vermelhas, fumaça artificial, corpos colados na pista como se a luxúria fosse o único idioma compreendido ali. Mas mesmo em meio ao caos familiar, eu me sentia deslocado.Mel cruzou o salão em minha direção com aquele vestido justo que deixava pouco à imaginação. Morena, pele dourada, olhos puxados e boca carnuda. Um furacão disfarçado de tentação. Ela era tudo que um homem como eu deveria querer — e nada do que eu precisava.— Você sumiu — disse ela, se jogando no sofá da área VIP como se fosse a dona do lugar. — Achei que tinha morrido ou se apaixonado. E nós dois sabemos que você não ama ninguém.Ri sem humor, jogando um gole de uísque garganta abaixo.— Tô resolvendo uns problemas.Ela se inclinou, os dedos arranhando de leve minha coxa.— Posso resolver um deles pra você. Que tal começar por esquecer a loirinha?Meu maxilar travou. Helena.Desde que deixei o hospital, não consegui pensar em mais nada. O jeito como ela me olhou qu
A campainha tocou de novo, insistente. E eu já sabia que era ele.Meu coração disparou antes mesmo dos meus pés tocarem o chão. Cada passo até a porta parecia pesado, como se eu caminhasse em direção a algo inevitável. Quando abri, lá estava ele.Dante.Tão real quanto a dor no meu peito. Tão bonito quanto eu me lembrava — mas mais sombrio, mais contido. O olhar dele carregava um peso que eu reconheci na hora. Culpa. Desejo. Desespero.Fiquei parada, segurando a maçaneta com força.— O que você está fazendo aqui?— Precisava te ver — ele respondeu, a voz rouca, baixa. — Saber como você está.Eu ri. Um riso curto e amargo.— Agora sabe. E aí? Vai embora de novo?Ele não respondeu. Só entrou, como se o silêncio fosse autorização. Fechou a porta com calma, mas o ar entre nós estava longe de ser tranquilo.— Helena…— Não, Dante. Eu entendi. Você quer distância. Você quer me proteger me deixando sozinha. Beleza. Já aceitei isso. Não espero mais nada de você.Meu queixo tremeu, mas eu me m
O sol já atravessava as cortinas do meu quarto quando acordei. Estava nua sob os lençóis bagunçados, o corpo ainda dolorido de prazer, e a presença de Dante era um calor ao meu lado que me fazia sorrir, mesmo de olhos fechados. A noite anterior ainda ardia em mim — cada toque, cada gemido, cada promessa não dita. Ele me teve de um jeito que nenhum homem jamais teve. Corpo, alma, coração. E eu… eu me entreguei inteira.Abri os olhos devagar, sentindo o aroma dele na fronha, no travesseiro, em mim. Dante estava no banheiro, e o som da água caindo no box era reconfortante. Pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia segura.Ou pelo menos achava que estava.Me levantei e cheguei na porta do banheiro. Lá estava ele, lindo, musculoso, aquelas tatuagens que o faziam parecer uma obra de arte. Quando ele levantou a cabeça e olhou pra mim, minha respiração parou.— Está gostando do que vê?— Não é de se jogar fora. - Falei como quem não quer nada.— Então vem aqui que vou te mostrar o que nã
A boate Verona pulsava como um organismo vivo. Cada batida da música reverberava dentro do meu peito como se o lugar respirasse junto com a gente. Luzes vermelhas cruzavam o salão, refletindo nos espelhos, no suor dos corpos apertados na pista, nas taças erguidas e nas máscaras que todos usavam ali — inclusive eu.Mas, apesar de todo o caos ao meu redor, eu só conseguia prestar atenção na mão firme de Dante repousando na minha cintura. Seus dedos estavam ali como uma promessa muda. De proteção. De posse. De desejo.Desde que ele bateu na porta do meu apartamento e eu abri, com o coração disparado e os olhos marejados, era como se estivéssemos num daqueles filmes antigos. Onde o mocinho aparecia no último segundo e pedia perdão com os olhos. Só que Dante não era mocinho. E essa não era uma história comum.Mas eu disse sim mesmo assim.Disse sim com o corpo, com os beijos desesperados, com os gemidos abafados naquela madrugada em que nossos corpos se procuraram até o sol nascer. E agora
POV: Helena O sol da tarde estava baixo, pintando o campus da faculdade com tons alaranjados, mas tudo que eu sentia era um frio crescente no estômago. Minhas costas doíam, a cabeça latejava, e as palavras de Mel ainda me corroíam por dentro.A forma como ela se aproximou de mim na boate, os sussurros venenosos dizendo que Dante e ela eram feitos um para o outro… Aquilo grudou em mim como ferrugem. Mas eu não ia ceder. Não mais.Saí da aula determinada a focar no que importava: terminar as provas, cuidar do bebê e tentar, de alguma forma, sobreviver à tormenta que era amar um homem como Dante Bellini.Mas então eu vi.Encostado em um dos postes próximos ao estacionamento, com o blazer amarrotado e um olhar que oscilava entre culpa e obsessão, Arthur me esperava. O coração pulou no peito, um instinto antigo de alerta.Tentei ignorar. Tentei passar direto. Mas ele se adiantou.— Helena, espera — a voz dele soou urgente. — Eu só quero conversar.— Já conversamos o suficiente — rebati, a
A noite estava sufocante, mesmo com o ar-condicionado do salão de festas funcionando a todo vapor. Vestidos longos, joias reluzentes e sorrisos falsos se espalhavam pelo ambiente como perfume barato disfarçando podridão. Eu me sentia deslocada, mesmo com a maquiagem impecável e o vestido preto justo que minha mãe insistiu para que eu usasse. O leilão beneficente era organizado por um dos maiores nomes da cidade — um evento onde empresários lavavam reputações e políticos se faziam de santos. E, aparentemente, também era onde a máfia mostrava os dentes usando terno e gravata. — Mantenha a postura — minha mãe sussurrou entre os dentes, sorrindo para uma socialite do outro lado do salão. — Você está sendo observada. Eu já sabia disso. Desde que cheguei, senti o olhar dele. Um homem alto, de presença imponente, terno cinza escuro sob medida e um sorriso que não tocava os olhos. Ele me estudava como se eu fosse mais uma peça valiosa a ser leiloada naquela noite. Dante estava a poucos
O prédio da OAB estava lotado. Gente por todos os lados, nervos à flor da pele, canetas estalando entre dedos trêmulos, suspiros profundos. Eu respirei fundo antes de entrar na sala, a mão repousando instintivamente sobre minha barriga, ainda discreta, mas cada dia mais real. Era o nosso bebê. Meu e do Dante.Apesar do nervosismo natural da prova, meu coração estava em paz. Não tinha recebido mais nenhuma ameaça desde a carta. Dante estava mais presente do que nunca. Queria que eu me mudasse com ele, dizia que queria nossa família segura. E por mais que eu ainda estivesse tentando conciliar minha antiga vida com a nova, já não conseguia me imaginar sem ele.A prova foi cansativa, mas fluiu. Respondi questão por questão com precisão. Quando finalmente entreguei a folha e deixei a sala, senti o alívio escorrer pelos ombros como água morna. Era o fim de uma etapa.Saí do prédio e segui pela calçada, procurando meu celular na bolsa. Foi quando senti uma sombra se aproximar rápido demais.