Angelina Garcia
Há dores que não sangram.
A dor de nascer. A dor de fazer aniversário. A dor de encarar um novo ciclo como quem enfrenta um abismo. Eu já estava divorciada havia tempo, mas não na alma.
Ainda havia, lá no fundo, a esperança tola de que Raul voltaria. Que a gente se reconstruiria. Mas agora... era oficial. Ele seguia com outra mulher. E eu? Apaixonada por um homem que jamais seria meu.
Era essa constatação que me esmagava o peito.
Enquanto Saulo dirigia, não perguntei para onde. Apenas fui. Ele parecia saber ou sentir que aquele era o meu luto. E, de alguma forma silenciosa, era o dele também. Éramos dois perdidos, cada um digerindo uma perda diferente, mas entrelaçados pela dor.
Ele parou o carro no acostamento e desceu, batendo a porta. Não foi raiva. Foi aviso. Lá embaixo, o mar rugia, violento. O sol se desfazia no horizonte como se o dia chorasse seu fim. Cores douradas e alaranjadas pintavam o céu, transformando tudo num espetáculo melancólico.
Desci do carro em