Angelina Da Costa
A impotência era um fardo sufocante no meu peito.
O pior não era a tristeza, era a paralização que vinha com ela. Ana Júlia chorou até o pranto se esgotar e o cansaço, vencer, adormecendo pesadamente no meu colo. Fiquei imóvel, acariciando seus cabelos embaraçados, observando as marcas das lágrimas secarem em seu rosto inchado.
O domingo foi consumido numa agitação prática e necessária.
Organizei o que restava na casa nova, ajeitei a agenda da semana, executei tarefas como um autômato. Já era noite fechada quando voltamos à casa antiga, aquela que ainda cheirava a Raul e a uma vida que não era mais nossa.
A missão era lavar, embalar os últimos pertences e apagar nossa presença dali, eu me sentia livre, ao invés de estranha.
O silêncio entre mim e Júlia era espesso.
Eu esperava, ansiava até, que ela desabafasse, que aquele choro encontrasse palavras. Mas Ana Júlia parecia trancada por dentro, e eu, covarde, tive medo de forçar a fechadura daquela dor.
Estávamos q