Angelina Ribeiro
Dirigi pela cidade como se estivesse cega, o coração acelerado, a respiração curta, cada semáforo parecia uma sentença. Cheguei ao condomínio, vi o carro de Saulo ainda estacionado na porta. O peito apertou, e a raiva se misturava à vergonha.
Adson caminhava com Laura, calmamente, como se nada tivesse acontecido, enquanto eu passava perto do carro de Saulo. Quis esbarrar nele, derrubar o veículo, provocar alguma reação... mas para quê? Só pioraria minha própria situação.
Estacionei próximo a meu filho e à mãe dele, tentando recompor a postura.
- Então... não vai dizer nada? - perguntou Adson para Saulo, que parecia esperar alguma postura.
Meus olhos desviaram para o carro de Saulo. Ele com o braço na janela, imóvel, observando. Um sorriso contido nos lábios.
- Deixa lá, querido. Olha, eu sou a sua avó. Sempre vou ser. - Laura beijou a testa de Adson, com aquela paciência de quem controla o mundo ao redor.
- Ei, vovó... eu também sou seu neto. - Atlas disse, se inclina