Saulo Prado
Deixei Angelina no prédio e, em vez de ir embora, fiz o desvio. Minha mãe tinha me ligado mais cedo, pedindo para buscá-la no shopping, e como sempre, resolvi aparecer sem avisar.
O que eu não esperava era a cena que encontrei na praça de alimentação.
Lá estava ela, Laura Ribeiro, a mulher mais docil desse mundo sentada diante de uma casquinha de sorvete, rindo, a boca toda suja, labuzada. Rindo. Como se tivesse voltado dez anos no tempo. Do outro lado da mesa, um dos moleques de Angelina, óculos meio torto no rosto, lambuzando os dedos de chocolate rindo e falando ela como se fossem íntimos de uma vida inteira.
Até que ele levantou, pegando um guardanapo, eu achava que ele limparia ele, mas ele, aproximou-se dela, que sorria, ele passava o papel com um cuidado pelo o seu rosto. A cena me tocou, me comoveu.
Aproximei devagar, escondendo o riso que ameaçava escapar. Minha mãe se divertindo num shopping? Com um garoto? Eu nunca oferecia isso ela, nem trazê-la desde que chegu