Saulo Prado
Eu nem percebi quando Angelina saiu. Adson já dormia, agarrado ao travesseiro; recostei-me na cama devagar, apoiando a cabeça enquanto Atlas enroscava o braço no meu pescoço. O corpo pedia descanso mais do que qualquer obrigação formal. Adormeci.
Durante o sono, senti um corpo magro se aproximar, as costelas finas roçando minhas costas. Abri os olhos e contei quatro pernas e vários braços ao meu redor: Atlas à frente, Adson atrás, eu ali no meio. Engoli em seco. Talvez eles sentissem falta do Diogo e não de mim. Ainda assim, os dois se aconchegaram como se aquele fosse o lugar mais natural do mundo. Respirei fundo e me deixei levar de novo. O fórum podia esperar; eu estava sendo pai, algo novo, muito diferente do que eu imaginara, cercado por dois garotos que, de algum modo, eram pedaços meus.
Quando acordei, a cama estava vazia. Olhei o relógio no pulso e senti um resquício de descanso. O travesseiro trazia o cheiro de Angelina, e a nossa conversa da manhã veio sobre mim