Angelina Ribeiro
Segui no trabalho como se fosse possível, organizei arquivos, alinhei processos, empilhei papéis que se acumulavam como pequenos muros entre mim e o mundo. Foi no meio daquela rotina mecânica que o celular tocou. Vi o nome no visor e sorri, um sorriso que tentou ser leve antes de atender.
- Como está a grávida mais sapeca de todas? - a voz de Diogo veio quente do outro lado, e eu não consegui conter o riso que escapou.
Sentei na cadeira giratória, as pernas rodando levemente, e olhei o ventre como se ele respondesse por mim.
- Acho que estamos bem. E você? - perguntei, risonha, tentando empurrar a sombra que vinha da minha própria cabeça.
Ele suspirou. Longo. Pesado.
- Confuso. Enlouquecendo, talvez. - falou, e um nó se formou na minha garganta.
Esperei, ouvindo cada sílaba como se fosse um tijolo.
- Nada ainda, Diogo? - insisti, e ele ficou um tempo em silêncio.
- Não. Seguem as investigações. - veio, contido, entre dentes. - Eu já fui lá, já questionei quem preci