Saulo Prado
No meio da conversa, escapei sem pensar: revelei que Angelina estava grávida. Não era o momento, e tampouco era o que ela planejava. Bastou a palavra atravessar a sala para que Adson e Atlas largassem os cadernos e ficassem olhando para a mãe - surpresos, curiosos, receosos.
Angelina, que os conhecia como ninguém, previu a enxurrada. Eles a encheram de perguntas. Um turbilhão de "vai ser menino ou menina?", "quando vai nascer?", "vai dormir no meu quarto?" que ela tentou responder com paciência. A conversa se arrastou até o jantar, e só terminou quando eles foram, enfim, para as camas.
O assunto que me atormentava - a transferência - ficou para trás. Os meninos não deixaram que continuasse.
- Eles devem estar confusos. - Angelina comentou, depois de apagarmos as luzes, ao tentar ler uma história interrompida por perguntas que não cessavam.
A observei de pé na porta do quarto deles. Apoiava a cabeça na madeira, as olheiras denunciando a exaustão.
- Com o tempo vão aceitar.