Saulo Prado
Sobral me recebeu como sempre: fria, chuvosa, com aquele ritmo preguiçoso que fazia os relógios parecerem andar para trás. Logo na chegada ao fórum, já percebi a estranheza. Eles não aguardavam juiz algum, ou melhor, eles possuem dois juiz na comarca.
- Não houve transferência, doutor Prado. - disse a servidora, com uma expressão neutra, mas que me pareceu quase debochada. - O senhor continua lotado em Santa Verena.
Fiquei alguns segundos olhando para ela, sem entender.
- Como não houve? Recebi despacho oficial, comuniquei à corregedoria, fiz todo o protocolo.
Ela deu de ombros, ajeitando os óculos.
- Pois é, mas a remoção não foi homologada. Houve indeferimento no TJ.
Senti a raiva e o alívio se confundirem dentro de mim.
Quis rir, mas o nó na garganta não deixou. Parte de mim queria tomar o primeiro voo de volta, segurar Angelina, abraçar meus filhos, me enterrar na vida que estava tentando construir. Mas não havia vaga para hoje. Todas as passagens esgotadas. Tarde de