Saulo Prado
Eu quis gritar.
Como um louco. Como um devasso, talvez.
A sensação de liberdade me atingia sem medo. Pela primeira vez em cinco anos, saber que Frantesca queria recomeçar era como um martírio ao contrário, uma redenção. Eu estava livre. Livre das correntes, livre da culpa.
E a mulher que eu amava... estava ali, do outro lado da rua, a poucas casas da minha.
Meu desejo era correr até ela, dizer que agora nada mais nos prendia, que eu lutaria por nós sem hesitar.
Mas ao abrir a porta, ao dar o primeiro passo para fora, a cena me congelou.
O homem negro, alto, firme, saía de um carro estacionado em frente. Mal teve tempo de fechar a porta, e as duas crianças loirinhas, magras, já corriam em direção a ele, agarrando-se às pernas com risadas eufóricas.
E eu fiquei parado.
Sem saber o que fazer, sem sequer respirar direito.
Qual era o meu direito ali?
O que senti não foi só desconforto. Foi inveja. Pura, crua.
Aquele era o retrato perfeito de família. Um retrato que eu nunca tiv