Saulo Prado
A semana parecia não ter fim. Desde segunda-feira, meus dias se resumiam em acordar cedo, passar pelo fórum, afogar-me em processos e, ao final, ir ao hospital ver Frantesca que permaneceu virada para a parede em todas as minhas visitas.
Todos os dias, sem falhar. Eu tentava me convencer de que era dever, de que estava apenas cumprindo a responsabilidade que ainda me restava como marido... mas, no fundo, sabia que parte de mim só fazia aquilo para tentar se livrar da culpa.
Era quinta-feira quando acordei com a sensação de que meu corpo já não me pertencia. O peso dos casos, das visitas ao hospital, das noites mal dormidas, tudo me esmagava. Mas ainda havia algo que mantinha meu sangue em movimento, a possibilidade de vê-la.
Angelina.
Entrei no fórum com a postura controlada, como sempre. Gravata ajustada, semblante frio, a máscara que aprendi a usar. Mas o instante em que a vi... tudo desmoronou.
Ela estava ali, de conjunto verde claro, impecável, os cabelos loiros e lis