O relógio do escritório marcava quase sete da noite quando Adriano fechou o notebook e recostou-se na cadeira. O ambiente já estava quase vazio; apenas o som distante do elevador e o arrastar de papéis de Lígia, que ainda finalizava alguns relatórios, preenchiam o ar. Mas o que pesava sobre ele não eram as planilhas. Era Helena.
Desde a conversa no café, os pensamentos não lhe davam trégua. A franqueza dela havia aberto uma ferida que ele evitava encarar: a de que estava tentando viver duas vidas ao mesmo tempo.
De um lado, a ex-esposa — Mariana. O reencontro recente despertara lembranças antigas, o projeto interrompido de uma família, o desejo guardado de ser pai. O retorno dela reacendia uma promessa, mas também um medo: o de repetir erros que já os tinham separado.
Do outro, Helena. Presente, intensa, cheia de silêncios que falavam mais do que qualquer frase. Com ela, Adriano sentia a vida pulsar de novo, como se tivesse saído de um estado de hibernação. Mas Helena também estava