A manhã amanheceu cinza.
O tipo de cinza que parece pesar no ar, se infiltrar nas frestas das janelas e deixar tudo suspenso — como se o tempo estivesse esperando algo acontecer.
Helena acordou antes do sol. Não dormira, na verdade.
A noite toda ouviu o vento bater nas folhas, os passos imaginários no corredor, o eco da voz de Adriano em sua mente.
“Eu volto”, ele havia dito dias antes, antes de desaparecer para sempre na estrada.
Mas naquela manhã, o som da campainha partiu o silêncio como um trovão.
Ela desceu as escadas devagar, o coração batendo no pescoço.
Quando abriu a porta, Rafael estava ali.
E bastou olhar para o rosto dele para entender.
— Helena… — ele começou, a voz embargada. — Acharam um corpo.
O chão pareceu sumir debaixo dela.
Por um instante, tudo se apagou — o som, o ar, o mundo.
Só restou o eco daquela frase se repetindo, cortando o ar como vidro.
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O trajeto até o hospital foi uma névoa.
Marina insistiu em acompanhá-la, segurando su