Helena embarcou no ônibus numa sexta-feira à noite, levando apenas uma mochila pequena. Marta insistira para que fosse sozinha, sem o filho, sem compromissos. “Você precisa se ouvir, Helena”, dissera a irmã. A frase ecoava em sua mente enquanto as luzes da cidade iam ficando para trás.
Durante o trajeto, a inquietação a dominava. Estava acostumada a viver para os outros: o filho, o marido, o trabalho. A ideia de passar dois dias apenas consigo mesma parecia tanto um alívio quanto uma ameaça. E se eu não gostar do que encontrar?
A recepção da irmã
Marta a esperava no portão da casa dos pais, com um casaco leve e um sorriso cansado, mas sincero.
— Até que enfim, irmã. Pensei que fosse desistir.
— Quase desisti — Helena admitiu, descendo as escadas do ônibus. — Mas você sabe como falar comigo.
Marta a abraçou firme.
— Eu só sei que você precisa respirar. E aqui é o melhor lugar pra isso.
Entraram na casa em silêncio. Os pais estavam em viagem para visitar parentes, e João, o irmã