Narrado por Zeus Marino
O apartamento estava quieto demais para o meu gosto. Paris nunca dorme, mas aqui dentro parecia que o mundo tinha parado. O silêncio não era paz. Era só o intervalo entre uma guerra e outra.
Eu estava na sala, o cigarro queimando devagar entre os dedos, quando o telefone vibrou no bolso do paletó. Não precisei olhar. O número vinha direto da Calábria. Só podia ser ele.
Ares.
Atendi sem demora, a voz grave saindo do outro lado como ferro raspando no concreto.
— Enzo me informou. Você foi até o laboratório?
Trinquei o maxilar. Ares nunca perde tempo com cortesia. Não pergunta se está tudo bem. Não pergunta nada. Vai direto ao ponto.
— Fui. — Minha resposta saiu curta, controlada.
Ele respirou fundo, o tipo de respiração que não é calma, mas cálculo.
— E o exame?
Olhei pela janela, deixando Paris se estender embaixo de mim: carros apressados, buzinas, gente correndo como se o mundo fosse acabar em cinco minutos. Nada disso me importava.
— Dois dias.
O silêncio que