Narrado por Léa
Deitei no quarto e o silêncio parecia mais pesado do que o próprio barulho da cidade. O bebê dormia no berço, o corpo pequeno respirando fundo, como se o mundo fosse simples. Por um instante, quis acreditar que era.
Mas não era.
Paris estava lá fora, cheia de movimento, cheia de vida, mas para mim o mundo se resumia àquele apartamento. Quatro paredes novas, amplas demais, que ainda não tinham cheiro de lar. E a presença dele. Sempre ele.
Zeus.
Ainda sinto a cena da madrugada na pele. O bebê chorando, eu me levantando por instinto, e a voz dele cortando o escuro: “deixa eu ver ele aqui.” Eu devia ter dito não. Devia ter segurado meu filho com unhas e dentes. Mas não fiz. Recuar foi covardia ou necessidade, até agora não sei.
E então ele pegou meu filho.
Não foi como imaginei. Não foi bruto, não foi apressado. Ele embalou com firmeza, cantou baixo em italiano, e de repente o choro cessou. Eu fiquei parada, olhando, sem conseguir mover um músculo. Dormi depois disso. Dorm