Narrado por Zeus Marino
A madrugada em Paris é um inimigo diferente. Não grita, não atira, não ameaça. Ela sufoca em silêncio, te lembra que a cidade nunca dorme, mas também nunca acorda de verdade. O apartamento estava escuro, exceto pela linha de luz que entrava pela varanda. O bebê dormia no quarto, Léa finalmente descansava depois de chorar até esgotar as forças. E eu estava sozinho na sala, cercado por paredes de vidro e decisões que já não podiam mais ser adiadas.
Eu não espero. Eu decido. Sempre foi assim.
Peguei o celular na mesa de centro, o peso frio contra a mão. O primeiro nome na lista não era o de Ares, não era o de Apolo. Era o de Enzo. Se tem alguém que move as peças quando o tabuleiro precisa mudar rápido, é ele.
Disquei. A chamada demorou mais do que eu gostaria, e quando a voz rouca atendeu, carregada de sono e whisky, percebi que ele não esperava por mim essa hora.
— Enzo. — Minha voz saiu seca, sem rodeio. — Preciso de um voo particular. Paris–Calábria. Dois dias.