Narrado por Zeus Marino
A manhã veio com cheiro de metal e de café frio. A casa não dormiu — ninguém dormia direito —, mas havia um movimento tenso e mecânico: pessoas que fazem o trabalho sujo sem perguntar por quê, que limparam sangue com a mesma calma com que dobram lençóis. Vi os rostos dos homens que tinham lutado comigo, alguns com cicatrizes que já conhecia, outros novos — e o espaço deixado por quem não voltou. Não se cura essa falta. Aprende-se a carregar.
Recebi relatórios contínuos: um homem nosso havia caído numa esquina, um capanga do Don morto em troca pela tentativa de intimidação, duas embarcações que mudaram de porto, garantias revogadas por parceiros que preferiam estabilidade. As notícias vinham em tom seco, como boletim de guerra. Havia vitória e havia preço, sempre. Não há vitória sem sombra.
Ares entrou no meu escritório com a cara fechada que eu aprendi a entender como sentença. — Eles reagiram com força — disse, sem drama. — Perderam um homem. Nós perdemos outr