Quando Yara, a corajosa amazona conhecida como Ninfa Fogosa, é capturada por uma força sombria, seu destino é envolvido pelas trevas. Agarrada e subjugada por um mestre sombrio, ela é levada ao coração do domínio do temível Naaldlooyee, o Lorde das Sombras Abissais, que deseja usá-la como peça num jogo de poder que ameaça devorar o mundo. Tupã, o destemido guerreiro chamado Gavião Tempestuoso, recebe a terrível notícia: sua amada fora levada pela escuridão. Mesmo gravemente ferido e com a morte à espreita, ele não pode ignorar o chamado da floresta nem o amor que pulsa em seu coração. Agora, ele deve reunir todas as suas forças e encarar um inimigo cuja escuridão ameaça engolir não apenas Yara, mas também a conexão vital entre a natureza e o espírito humano. Numa jornada repleta de perigos, sacrifícios e revelações, Tupã deve decidir até onde está disposto a ir para salvá-la — e se conseguirá vencer o demônio antes que seja tarde demais. Ora, o destino de Yara e Tupã se entrelaça numa batalha entre luz e trevas, amor e desespero. Mas quando o coração da floresta se conecta ao coração de um guerreiro, mesmo as sombras mais abissais podem ser desafiadas. (Segundo Volume de Amor entre Sombras e Brisas)
Ler maisO disparo estilhaçou a quietude da manhã, ecoando pela clareira como um trovão. Por um instante, o tempo pareceu suspenso — até o canto dos pássaros sumiu, engolido por um denso e expectante silêncio.
A floresta transformou-se num teatro de tensão.
Os mercenários avançavam em passos medidos, dedos nos gatilhos, olhos varrendo a vegetação em busca do menor sinal de vida, cada sombra parecendo esconder uma ameaça, cada galho quebrado, uma armadilha.
No entanto...
— Ele está morto — declarou um deles, sua voz resoluta, quase satisfeita. — Ninguém sobrevive a um tiro tão certeiro.
Mas quando chegaram ao local onde Tupã caíra, encontraram apenas folhas amassadas e lama salpicada de vermelho.
— Onde ele está? — perguntou outro, o tom carregado de tensão.
O líder do grupo, um homem de rosto endurecido e cicatrizes profundas, estreitou os olhos, estudando o ambiente em volta.
— Se escafedeu! — Sua voz era grave, carregada de frustração. — Olho vivo! Esse desgraçado não é como os outros macacos!
Entre as sombras da floresta, Tupã deslizava como um espectro, seu corpo colado ao chão, escondido entre raízes e arbustos, cada movimento uma luta contra a dor latejante em seu peito, insistente como uma segunda pulsação.
O tiro não o matara, mas deixara sua marca: uma ferida na lateral do corpo que sangrava devagar, ameaçando roubar-lhe as forças gota a gota.
Ao seu redor, a floresta parecia respirar, sussurros ecoando em sua mente, palavras incompreensíveis que, no entanto, o guiavam como uma invisível bússola. Raízes se torciam para abrir caminho, folhas caíam para cobrir seus rastros, e as sombras se estendiam. Como mantos protetores.
Com mãos trêmulas, ele cobriu a pele com lama e folhas úmidas, tentando sufocar o cheiro do sangue que poderia delatá-lo. A respiração era pesada, quase um rugido nos ouvidos, mas nos olhos brilhava uma chama obstinada — a promessa de que não cairia ali, não enquanto pudesse rastejar.
— Ainda não — murmurou ele para si mesmo, a voz rouca e tensa. — Ainda não acabou.
Um lampejo de escuridão e dor.
E então, suas percepções começaram a oscilar. Entre o presente e algo além, flashes de luz dourada invadiam sua mente. Ele via árvores gigantescas que pareciam alcançar os céus, figuras indistintas que o observavam, os olhos brilhantes, e sussurros ancestrais que ecoavam como canções de tempos esquecidos.
A floresta não era apenas seu escudo — era também seu juiz. Cada passo, cada obstáculo, parecia fazer parte de um teste oculto, uma prova que ele ainda não compreendia por completo.
Após uma caminhada que se arrastava como uma eternidade, suas forças o traíram. As pernas cederam, e ele desabou ao lado de uma formação rochosa, onde o musgo cobria as pedras como um tapete úmido. Foi então que a visão surgiu: uma gruta escura, sua entrada semioculta entre sombras e raízes retorcidas.
A cavidade parecia sussurrar seu nome, convidando-o com uma promessa ambígua de abrigo. Um refúgio duvidoso, sim, mas o único à sua frente.
Ao despertar, Tupã notou que não estava mais sozinho.
Pequenas criaturas o rodeavam, seus olhos brilhando como vaga-lumes. Suas peles lembravam cascas de árvores, e seus movimentos eram velozes e curiosos. Eram os Chaneques, pensou Tupã, os travessos protetores espirituais da floresta. Apesar de sua aparência peculiar, Tupã sentiu que não havia ameaça neles.
E então ele a viu.
Uma figura alta e graciosa emergiu das sombras, quase etérea em sua presença. Ela era deslumbrante, cabelos que pareciam feitos de folhas douradas e olhos que brilhavam como a luz da lua. Sua pele tinha o tom das árvores ao entardecer, e sua postura era ao mesmo tempo imponente e serena.
— Tu chegaste até aqui, guerreiro — disse ela, sua voz suave como o vento entre os galhos. — Mas algo me diz que tua jornada não terminará sem consequências, ó escolhido.
Tupã tentou se mover, mas a dor em seu corpo o prendeu ao tecido de junco que revestia o chão musgoso.
— Quem és tu? — ele perguntou, sua voz fraca, mas carregada de curiosidade.
— Eu sou Ceiba, guardiã das árvores sagradas e mãe desta floresta. — A dríade ajoelhou-se ao lado dele, seus olhos fixos nos dele. — Tu fostes escolhido pela própria terra para cumprir um destino maior.
Conforme falava, Ceiba estendeu a mão sobre o ferimento de Tupã. Ele sentiu um calor profundo espalhar-se por seu corpo, como se a energia da floresta fluísse por suas veias.
— Estás gravemente ferido — continuou ela, sua voz calma, mas firme. — Eu posso curá-lo, plenamente. Mas há um preço.
Tupã franziu a testa, seus pensamentos turbilhonando.
— Que preço?
Ceiba inclinou-se para mais perto, os olhos dela refletindo algo antigo e insondável.
— Tornar-se meu Dryan. Um guardião eterno da floresta, ao meu lado, cuidando das árvores e das terras sagradas. Tua vida será dedicada a proteger o equilíbrio, e tua alma será atada à minha para sempre.
As palavras dela pairaram no ar, carregadas de uma gravidade que fez o coração de Tupã vacilar.
— Eu não posso — disse ele finalmente, a voz entrecortada pela dor e pela emoção. — Tenho uma missão. Tenho alguém que preciso proteger.
Ceiba sorriu suavemente, mas havia tristeza em sua expressão.
— O amor é uma força poderosa, guerreiro. Mas a floresta também é tua família. Sem ela, tu não sobreviverás. Nem aqueles que tu amas.
Os Chaneques em volta murmuraram em concordância, seus olhos fixos em Tupã, como se esperassem sua decisão.
Ele fechou os olhos, sentindo o peso esmagador da escolha à sua frente. A floresta havia sido sua aliada, seu refúgio. Mas a ideia de abandonar Yara, de renunciar sua missão, era um sacrifício que ele não sabia se poderia suportar.
A tensão no ar era quase tangível, o destino de Tupã pendendo por um fio.
Ele intuía que, qualquer que fosse sua escolha, nada jamais seria o mesmo.
Conforme o guerreiro sombrio desafiava seus caçadores, em outra parte da floresta, a terra cuspia seus horrores.Criaturas espectrais brotavam do solo como lodo primordial, membros retorcidos e bocas sem rosto se contorcendo em infinita fome. Guerreiros de ambos os lados recuavam, suas alianças esquecidas diante daquele pesadelo sem lealdade.E então... o trovão.Mas não havia relâmpago. Nenhuma nuvem. Apenas o estrondo, como se o próprio céu tivesse rachado.E do vazio, algo caiu.Quando a poeira das cinzas ergueu-se em espiral, duas figuras emergiram.Duncan, o Exorcista, seu manto azul-tempestade flutuando como asas de um lendário falcão, os olhos frios varrendo o massacre.O Enigmático, envolto em cobalto, sua voz mecânica, quase desumana, como se as palavras fossem formadas por invisíveis engrenagens.Diante deles, o campo de batalha não era mais guerra. Era abatedouro.Pelos espíritos.Corpos dilacerados. Kaena jazia entre os mortos, sua armadura partida, sua história interrompi
O ar pesava como chumbo entre eles, um segundo após outro dilatado pelo tempo congelado da decisão. Se aquela visão fosse mesmo artifício de Mapache, qualquer escolha de Donaldo seria um movimento em tabuleiro envenenado.Sob o elmo, seus olhos percorreram as curvas de Clara — seios altivos como colinas sob luar, volumosos e empinados e convidativos... Um banquete para os sentidos... ou isca envenenada?Campo de batalha, lembrou-se, os músculos tensionando. Os agentes da emboscada se ocultavam na mata, respirando entre as folhas. Mapache, o arquiteto dessa armadilha, observaria. Cada movimento.Mas memórias irromperam como facas aquosas.Corpos entrelaçados em lençóis úmidos.Línguas duelando em linguagem arcaica.Seus dedos cravando em carne macia como em argila quente.Por um instante visceral, viu-se arrancando a armadura, atirando Clara ao chão com a fúria de um touro e montando-se sobre ela. O gramado virginal cedendo sob seu peso. Um rugido selvagem engasgado na garganta...Insan
Uma pausa. O ar entre eles engrossou, denso como sangue ressecado, como se o próprio crepúsculo suspirasse e contivesse o fôlego, temendo o que viria.Clara o encarou. Seus olhos — duas lápides sob o luar — perfuraram-no.— As trevas dentro de você... elas o dominaram, não? — Seus lábios curvaram-se, não em um sorriso, mas na sombra de uma... piedade? Desdém? — Um casulo de trevas. É isso o que vejo.Donaldo sentiu a amargura subir-lhe pela garganta como um rio de fel, negro e espesso, veneno de memórias podres. Como no sonho. Como sempre.Era ela? Ou apenas outra mentira esculpida pelas sombras?Não importava.— Você me abandonou, Clara. — Suas palavras eram lâminas temperadas em veneno, cada uma cravada com a precisão de um carrasco. — Me abandonou por me achar fraco. Impotente. Por achar que eu não mais podia satisfazê-la.Seu punho cerrou-se, unhas rasgando a própria carne como se pudesse esmagar o passado entre os dedos.— Nunca esqueci como você me empurrou para um abismo. Nunca
Uma vaga de trevas ondulou entre os troncos da mata, como negras serpentes deslizando sobre a terra.Os sombrios espectros de Donaldo lançaram-se sobre Mapache, garras de pura escuridão prontas para dilacerar — mas, antes que pudessem talhá-lo, desfizeram-se em névoa, dissipadas como fumaça ao vento.Foi então que Donaldo compreendeu.O Chi em suas veias, a força que alimentava sua arte negra, definhava. O Altar das Trevas, o pilar que sustentava as vias ocultas entre os mundos, fora reduzido a ruínas. Sem ele, até mesmo os mais poderosos— talvez até Naaldlooyee — estariam condenados à fome mística.E agora, ele sentia.Os assassinos não vieram para matá-lo. Vieram para esvaziá-lo. Drenar-lhe o poder gota a gota, até que não restasse senão um invólucro vazio, vulnerável à lâmina mais insignificante. E ali, cercado por inimigos, com seus guardas tombados ou desertores, ele sorriu — um riso amargo, cortante como aço sob a lua.— Clarear a minha mente, diz você? — rosnou, os olhos ardend
Movimentos serpenteantes dançaram na cortina de fumaça quando as sombras se materializaram — clones de sombras, versões sombrias, réplicas distorcidas de Donaldo, talhadas em puro véu noturno. O verdadeiro surgiu das entranhas da mata, sua armadura negra engolindo a luz, a máscara de gás do capacete emitindo um mecânico sibilo. Uma proteção contra as artimanhas de seus opositores, outro sinal de seu preparo, de sua precaução. Um sopro de vento dissipou a névoa, e as criaturas se desfizeram em espirais de trevas, deixando para trás apenas as concubinas, colapsadas como bonecas de pano. Antes que Khali pudesse gritar, uma lâmina fantasma zuniu — rápida como o pensamento — e o braço de Kaoru rolou no chão, seguido pelo corpo, trespassado pelo punhal de Donaldo.Um lampejo de dor e desespero.Kahli gritou a plenos pulmões o nome de sua aliada cujo sangue jorrava do peito e da boca, sua visão se enturvando. — Como eu disse, vim bem vestido para o baile — sussurrou Donaldo, a voz abafada
Kahli cerrou os dentes num estalo seco, sua língua estalando contra o céu da boca em um misto de frustração e veneno. Quando Donaldo fez um súbito movimento, ela saltou para trás, seus reflexos afiados a salvando por um triz — mas seus olhos não deixaram de reconhecer as criaturas que agora avançavam.As concubinas de Donaldo.Pessoas que ela conhecera. Amigas que compartilharam segredos com ela quando estivera infiltrada. Agora, não passavam de fantoches de trevas, corpos ocos com bocas que se rasgavam em sorrisos largos demais, olhos que reluziam com algo que não era delas.Por um momento, a escuridão dentro dela respondeu.Um peso de chumbo arrastou-a para baixo. Seus joelhos bateram no chão, a dor latejante nas rótulas menos intensa que a que ardia em seus olhos. Lágrimas quentes escorreram, mas não de medo — de raiva.Foi então que as mãos enluvadas de Kaoru pousaram em seus ombros, firmes como âncoras.— Não ceda agora. — A voz de Kaoru era uma lâmina fria cortando o desespero.
Último capítulo