Segunda parte de A saga do Império Izar. Acompanhando os acontecimentos diretos após o fim do primeiro livro e a guerra que se sucede.
Ler maisXi admirava seu novo uniforme da Academia Militar Imperial pelo espelho oval que estava no canto de seu novo quarto, ou pelo menos estava admirando o novo modelo que ele estava usando no momento.
Nesse segundo ano letivo ele tinha recebido dois tipos diferentes de uniformes. Um tinha sido feito com materiais resistentes para aulas em campo enquanto o outro era feito de matérias mais leves para aulas dentro do instituto ou para festas.
O que Xi estava usando no momento era o segundo. O tecido era bem leve, quase tão leve quanto as roupas que ele costumava usar em sua casa. Além de ser bem suave ao toque, de uma maneira que não incomodava a pessoa que o estava usando.
Xi voltou a admirar seu reflexo no espelho. O uniforme era de uma cor cinza escura e era composta por várias peças. A parte superior era uma camisa simples sob uma espécie de roupão de mangas longas e folgadas com a parte inferior indo até o joelho. Ele era aberto na frente, e a parte direita era colocada por dentro da esquerda e toda a peça superior era segurada por um cinturão de couro negro na cintura.
A parte inferior era da mesma cor que a superior e era tão larga e folgada quanto as mangas que cobriam os braços dele. Seus pés estavam dentro de sapatos de um macio couro que não durariam muito nas trilhas das montanhas, mas que eram muito confortáveis de se usar dentro de uma casa.
A mão esquerda do jovem Bronze se moveu e pousou em sua cintura do mesmo lado, no local onde ele estava sentindo a falda do peso de sua almashas. Ele ainda a possuía em seu armário, mas estava proibido de a portar dentro da Academia, a menos que estivesse saindo par alguma aula em campo ou algo do tipo.
De repente duas batidas discretas soaram vindo do outro lado da porta do quarto de Xi, ele se virou abandonando seu reflexo no espelho e caminhou até a porta de madeira e a abriu.
Do outro lado se encontrava um jovem que Xi tinha criado uma certa amizade no último ano.
- Jovem Mestre Xi, a quanto tempo. – O garoto falou respeitosamente se curvando em saudação a Xi com um sorriso discreto no rosto.
- Já faz muito tempo, Li. – Xi acenou para o garoto, fazia tempo que ele não via o jovem servo que o tinha guiado até o Santuário em seu primeiro ano letivo. – O que faz por aqui?
- Fui escolhido para guiar o Jovem Mestre Xi até o banquete. – O garoto respondeu.
Xi percebeu que Li tinha crescido um pouco desde a última vez que ele o tinha visto, mas continuava sendo um garoto magro com os ombros levemente encurvados para frente.
- Entendo. – Xi saiu do quarto, fechando e trancando a porta antes de se virar para Li. – Mostre o caminho então, e aproveite para me contar as novidades da Academia enquanto eu estive fora.
O jovem servo abaixou levemente a cabeça em reconhecimento ao pedido de Xi e enquanto guiava o jovem Bronze até o salão onde estava sendo realizado o banquete, foi lhe contando todas as novidades da Academia enquanto os alunos tinham estado fora.
Xi ficou sabendo que alguns edifícios abandonados ao redor da Academia tinham sido reformados e recheados com guarnições bem treinadas e armadas. Tinha sido um dos movimentos do Diretor para manter os arredores da Academia em segurança nos dias conturbados que se abatiam sobre o Império.
- Também ouvi alguns boatos de que uma nova leva de recrutas foi levada para o Vale das Tribulações. – O jovem servo continuou falando. – Aquele lugar está abarrotado de gente pelo que me disseram.
Xi franziu levemente as sobrancelhas quando ouviu o nome daquele lugar. Ele tinha ouvido falar do Vale das Tribulações por parte de seus irmãos e irmãs. Aquele era o lugar onde ele ficaria a maior parte do início do seu segundo ano na Academia e onde ele formaria sua unidade pessoal de treinamento do próximo ano, e que dependendo da situação poderia continuar quando ele se formasse.
- Xi! – Uma voz nem alta nem baixa soou de um corredor lateral quando Xi e Li estavam passando.
O jovem Bronze se virou e viu um outro aluno da Academia vindo em sua direção, sendo guiado por outro servo.
- A roupa ficou bem em você, Ryu. – Xi falou cumprimentando o amigo e lançando para ele um olhar preocupado.
Ele não tinha tido mais contatos com Ryu desde a cerimonia de fim de ano alguns meses atrás. O amigo estava tão abatido ali no corredor quanto esteve na cerimônia e no enterro de seus parentes.
- Venha, vamos juntos para o banquete. – Xi falou sinalizando para que Li voltasse a guia-lo.
O outro servo se adiantou e começou a andar ao lado de Li enquanto Xi e Ryu iam um pouco mais a atrás em silencio. Xi lançava olhares pelo canto do olho para o amigo, preocupado com o estado mental dele.
- Não me olhe assim. – Ryu pediu em voz baixa. – Eu sei que meu estado é deprimente, mas eu já superei a morte de meu velho.
Xi lançou um olhar estranho para o amigo antes de deixar os ombros caírem e perguntar com a voz igualmente baixa como a do amigo.
- Como foi com sua família?
Ryu se encolheu um pouco com a pergunta, desviando o olhar para o lado, mas ele não tinha sido rápido o suficiente para que Xi não visse a dor em seu rosto.
- Estão abalados. – Ryu respondeu, e sua voz agora não estava só baixa, como também estava carregando uma profunda dor. – Mas somos Izanitas, somos guerreiros, iremos superar tudo o que está por vim.
Xi assentiu satisfeito com a resposta do amigo. Aquilo tirava um pouco do peso de suas preocupações. Juntos, eles continuaram em silencio, indo em direção ao salão do banquete.
Não demorou para que Li e o outro jovem servo chegassem ao final de um corredor onde uma grande porta de madeira bloqueava o caminho.
- Esse é o limite de onde estamos autorizados a ir. – Li falou e se curvou para os dois alunos. O servo ao seu lado fez o mesmo que ele. – Desejamos aos dois uma ótima noite.
Xi sorriu e acenou para os dois antes de se virar. Já Ryu deu um breve aceno com a cabeça antes de começar a seguir o jovem Zhang até a pesada porta de madeira. Xi abriu a porta, surpreso por algo daquele tamanho e peso se mover com tanta suavidade e silencio.
Assim que a porta se abriu os dois foram recebidos pelo som de música e pelo cheiro de comida. Os dois estavam no topo de uma escada e abaixo deles se encontrava um grande salão retangular cheio de mesas com comida e centenas de jovens usando roupas iguais as deles.
Xi passou lentamente o olhar pelo salão, reconhecendo alguns dos alunos que ele teve algum contato ano passado e percebendo a presença de alguns instrutores entre eles.
Um sorriso se desenhou em seus lábios quando ele avistou uma dupla de pé ao lado de uma mesa farta. Xi deu uma cotovelada de leve no braço de Ryu para lhe chamar a atenção e então apontou com o queixo a dupla.
- Eles estão se esbanjando. – Ryu comentou com um meio sorriso no rosto, algo raro de se ver nos últimos dias.
Xi abriu ainda mais seu sorriso ao ver aquilo e juntos eles desceram as escadas. Assim que entraram no salão eles foram reconhecidos pelos outros alunos, alguns os saldaram com animação e respeito, enquanto outros eram indiferentes e davam breves acenos de cabeça só para demonstrar uma mínima etiqueta.
Os dois já estava no meio do caminho para a mesa que queriam ir quando um grupo de alunos barrou o caminho deles. Xi deu um sorriso discreto e olhou para a líder do grupo.
- A quanto tempo, Ling. – Xi fez uma saudação respeitosa para a garota da casta Prata e Ryu ao seu lado foi ainda mais respeitoso.
Ling tinha cortado o cabelo em um corte mais curto que o normal, sendo bem mais curto na nuca e um pouco mais comprido nas laterais do rosto. O uniforme, apesar de largo nas mangas e nas pernas da calça, não conseguia esconder as belas curvas de sua cintura.
- A quanto tempo, Xi, Ryu. – A garota os saudou de volta com um meio sorriso no rosto.
De trás dela veio outros alunos que Xi reconheceu prontamente tais como o alto Feng e a musculosa Wei que tinham se tornado companheiros da jovem Prata ao longo do primeiro ano letivo. Xi reconheceu alguns outros alunos plebeus que seguiam Ling e os cumprimentou com um sorriso no rosto.
- Eu ouvi falar do que aconteceu em suas terras e fiquei sabendo de sua participação para salvar seu povo. – Ling falou, o sorriso desaparecendo de seu rosto enquanto ela assumia uma expressão mais séria. – É uma pena que tamanho desastre tenha que acontecer para que ganhemos renome.
A expressão de Xi azedou ao ouvir as palavras da garota. Ele que tinha presenciado pessoalmente ao taque e os danos causados pelos Predadores da Noite, estava tentando evitar pensar no assunto por agora.
- Foi um golpe muito perigoso que o Império sofreu com esse levante dos Predadores da Noite. – Xi se forçou a falar. Ele trocou mais algumas palavras sobre o ocorrido com os colegas de classe e se afastou deles com uma desculpa educada enquanto era acompanhado pelo silencioso Ryu.
Os dois tentaram evitar encontrar outros grupos de alunos que pudessem incomoda-los com perguntas que eles não tinham nenhuma vontade de responder.
Enquanto passavam entre algumas mesas, Xi percebeu que Ryu tinha ficado tenso e que sua testa estava levemente franzida. O jovem Zhang acompanhou o olhar do amigo e viu um grupo de alunos reunidos em volta de uma grande mesa. No centro daquele grupo estava um rapaz de longos cabelos negros.
- Muh continua cercado por puxa sacos. – Xi comentou enquanto desviava o olhar para não fazer contato visual com ninguém daquele grupo e acelerou seus passos para a mesa que ele queria chegar.
-Hum? Ei, Buco, olha quem chegou.
Buco e Swam estavam atacando ferozmente a mesa diante deles, comendo o máximo que podiam aguentar. Mas assim que Xi e Ryu se aproximaram, os dois pararam de comer e se viraram para cumprimentar a dupla.
- Hey! Buco, você voltou a engordar? – Xi perguntou abrindo um sorriso de brincadeira.
- Quando voltei para casa, minha mãe e minha avó me encheram de comida reclamando do quão magro eu estava. – O mais gordinho dos primos Q'wem resmungou.
- Como se ele não tivesse gostado. – Zombou Swam mastigando um doce. - Ele passava mais tempo comendo do que treinando.
- Cala a boca, Swam. – O Gordinho levantou um punho ameaçando o primo baixinho. – Mesmo assim eu ainda sou mais forte do que você.
- Grandes merdas. – O baixinho desdenhou dando um passo para longe do punho do primo. – Minha mira é melhor que a sua, antes que você chegue perto de mim eu já acabei com você.
Xi e Ryu trocaram um olhar estranho, erguendo suas sobrancelhas em surpresa.
- O que diabos aconteceu? – Ryu sussurrou para Xi.
- Como vou saber? Eles sempre foram assim? – Xi perguntou de volta enquanto olhava estranhamente para os primos comparando as habilidades uns dos outros,
- Todos fiquem quietos. – Uma voz de comando que todos os alunos ali bem conheciam soou silenciando o salão. – Prestem o devido respeito ao Diretor.
Xi se virou e viu o instrutor Tatua Sum no meio da escada e logo atrás dele vinha o velho diretor da academia usando uma roupa muito parecida com a dos alunos, só que de uma cinza mais claro e com mais detalhes. Rapidamente todos os alunos se viraram para ouvir as palavras do Diretor da Academia.
Ela estava um pouco ansiosa e respirava fundo constantemente enquanto reavaliava suas palavras que seriam ditas, procurando a melhor maneira de passar para seus convidados o que ela queria.Ling Pan estava sentada atrás de uma grande mesa redonda e outras seis cadeiras que estavam vazias cercavam essa mesa. A mais nova jovem Senhora de Iseka esperou com um pouco de nervosismo enquanto o tempo passava. Alguns servos apareceram colocando alguns pratos sobre a mesa assim como algumas jarras com bebidas, mas ela mal notou a presença deles.Já passava da meia noite quando os seus primeiros convidados chegaram. Wei Su e Feng Dol entraram em silencio na sala que ela tinha escolhido e se sentaram cada um de um lado dela.Alguns minutos depois e Tou Fuji entrou sozinho na sala. Ele deu um sorriso discreto para ela e depois cumprimentou os outros dois antes de se sentar ao lado de Feng Dol.Ling Pan tentou observar discretamente o jovem Mus
O grande salão da mansão dos Pan em Iseka estava lotado com oficiais do exército. Em sua maioria estavam os Tash, o ranque mais baixo entre os oficiais imperiais que podiam ser contados como centenas ali. Em seguida vinham os Mush, dezenas deles que lideravam pequenos grupos de Tash aqui e ali.Mas o centro da atenção estava nos poucos Aush presentes. Menos de dez homens e mulheres imponentes, todos com quarenta anos ou mais e com um tipo de aura que os envolvia impondo obediência e respeito para aqueles ao seu redor.Os oficiais inferiores se reuniam em volta dos Aush, formando pequenas facções dentro do grande salão. Nos uniformes de cada um era possível ver caracteres izanitas que ajudavam a identificar cada facção. Por exemplo, os oficiais em volta dos Aush Yangong e Leinlon possuíam em seus coletes pressu
Suspiros de alivio preencheram o interior do andador enquanto Tou Fuji e sua unidade iam se preparando para a viagem de volta para o interior de Iseka. Eles estavam bem sobrecarregados após uma semana tomando conta das coisas no portão oeste. Tiveram que cuidar da alocação de dezenas de andadores além dos alojamentos de milhares de soldados junto com a passagem dos feridos para o interior da cidade.O jovem Mush estava sentado no banco mais próximo da porta que dava para a cabine do piloto do andador. De lá ele podia olhar bem para seus subordinados sentados em dois longos bancos que iam de uma ponta a outra do andador pela linha da parede. Uma área espaçosa entre eles estava ocupada com suas mochilas de viagem e logo estaria sobrecarregada quando parassem em uma das vilas dentro dos muros de Iseka para pegar uma parte do carregamento de alimentos já colhidos.Tou Fuji observou seus subordin
As terras ao norte de Iseka eram compostas por uma vasta planície de solo rochoso que só não se estendia infinitamente até o horizonte por causa de algumas poucas pequenas montanhas que eram vistas isoladamente em alguns cantos.Uma grande caravana de andadores de todos os tamanhos estava atravessando essa planície rochosa nesse momento. Dezenas e mais dezenas de andadores carregando milhares de soldados imperiais em direção as terras férteis de Iseka,Ling Pan estava em pé no teto de um andador de tamanho médio. Uma máquina de guerra de oito pernas com uma pesada blindagem e dois canhões giratórios de cada lado do gigante de aço. Aquele era um andador de guerra, uma máquina que servia tanto para transportar pessoas ou objetos assim como para trocar disparos com os inimigos.A jovem Prata estava com os braços cruzados atrás das costas enquanto o
Ele acordou com um grunhido de dor e logo se arrependeu por ter aberto os olhos enquanto seu flanco latejava levemente revelando que apesar de estar vivo, ele ainda não tinha passado por uma sessão de cura acelerada.Olhando em volta, Xi Zhang analisou seus arredores. Um quarto de tamanho médio, bem iluminado e fresco. Uma grande janela estava aberta a sua esquerda e a sua direta se encontrava uma porta fechada que devia levar provavelmente para fora do cômodo. O jovem Mush estava deitado sobre uma grande cama de casal que ficava de frente para um armário de porta dupla com uma pequena mesa redonda entre a cama e a janela a esquerda.Pelo brilho alaranjado que vinha pela janela, ele estava supondo que era o início da manhã ou que já estava no final da tarde. Ele respirou fundo e tentou se levantar, sentido a forte dor em seu flanco ferido ficando mais intensa.- Eu continuaria deitado em repouso se
Mesmo depois de já terem retirado os corpos que entupiam as ruas e de uma forte chuva ter limpado o sangue que cobria Iseka, ainda era possível ver os rastros da batalha que tinha acontecido ali.Se uma pessoa olhasse com atenção, ainda conseguiria ver as escuras manchas de sangue onde pessoas tinham morrido ou as cicatrizes deixadas nas ruas ou nas paredes pelas armas dos soldados imperiais e dos soldados da Aranha.Ryu Hon que passeava pela cidade estava atento a tudo isso, reparando que mesmo com todo aquele dano, aquela ainda era uma cidade de uma beleza simples.Iseka não era como Fuujitora com seus distritos espalhados tanto fora quanto dentro das montanhas ou como Odako que tinha sido construída em um gigantesco buraco no chão. Não, Iseka era mais simples e até mais compacta. Suas ruas não eram nem estreitas e nem largas demais, sendo de um tamanho ideal para que andadores de pequeno po
Último capítulo