— Um casamento, Astrid. Com o rei dos bárbaros, no Norte. Meu sangue gelou. — C-casamento? Com... um bárbaro? Leif assentiu, sua voz carregada de culpa. —É a única forma de garantir a segurança do nosso povo, das nossas crianças... e de você, Astrid. Por toda a minha vida, fui preparada para governar, para proteger o Reino do Vento ao lado de meu pai. Mas agora ele estava morto, e tudo o que restava era um trono ameaçado e um conselho apavorado. As muralhas que nos separavam dos bárbaros estavam prestes a ruir, e minha única opção era me entregar ao rei deles. Ragnar. Um guerreiro selvagem, um homem de lendas e sangue derramado. Eu deveria odiá-lo. Temê-lo. Mas, no instante em que seu olhar encontrou o meu, percebi que ele não era um monstro. Ele era algo muito pior, alguem que mexeria com a minha sanidade e com o meu coração. — Se for para salvar o meu povo, eu aceito. O destino já havia decidido por mim. Agora, eu só precisava sobreviver à tempestade que estava por vir.
Leer másPor séculos, o território de Wester foi marcado por sangue e destruição. Na tentativa de pôr fim ao ciclo interminável de guerras, os líderes das cinco grandes nações decidiram formar uma aliança histórica. Uma muralha colossal foi erguida, isolando os reinos dos bárbaros que habitavam além das fronteiras. Para consolidar essa união, decretou-se que os nobres selariam casamentos estratégicos entre seus herdeiros, mantendo seus sangues puros e proibindo qualquer vínculo com os bárbaros. A desobediência significaria traição e exílio.
Os reinos de Wester eram:
Reino do Fogo, liderado por Thorstein Freysson;
Reino do Vento, governado por Vidar Jotunsson;
Reino da Água, sob o comando de Eldrid Hjalmarsson;
Reino da Terra, liderado por Gudrun Vargdottir;
Reino do Relâmpago, governado por Ulf Thorsen.
A paz foi garantida com o revezamento do poder entre os cinco reis, cada um governando como “Guardião dos Reinos” por cinco anos. As alianças matrimoniais eram o pilar dessa estabilidade, e o herdeiro do Reino do Relâmpago, Bjorn Thorsen, estava prometido à filha do Reino da Terra, Ingrid Vargdottir.
Mas o destino tinha outros planos.
Bjorn era um espírito indomável, atraído pelas terras além das muralhas. Durante uma de suas explorações, encontrou Lagertha, uma bárbara de cabelos flamejantes, cuja beleza e força o cativaram. O que começou como curiosidade logo se transformou em um amor ardente e proibido. Apesar dos avisos de seu pai, Bjorn desafiou o mundo para ficar ao lado de Lagertha.
No entanto, sua felicidade não passou despercebida. Grim Thorsteinsson, amigo de infância de Bjorn e consumido pela inveja, também desejava Lagertha. Quando percebeu que o coração dela já pertencia ao príncipe herdeiro, traiu Bjorn, expondo o romance aos reis.
O escândalo colocou Bjorn e Lagertha em perigo mortal. Para proteger o Reino do Relâmpago e salvar Lagertha, eles decidiram romper o relacionamento. Cada um voltou ao seu mundo, carregando o peso da dor e das responsabilidades. O que Bjorn não sabia era que Lagertha carregava em seu ventre o fruto de seu amor proibido, uma criança destinada a mudar o destino de Wester.
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Quando Gudrun Vargdottir, rei do Reino da Terra, descobriu a gravidez de Lagertha, sua ira não conheceu limites. Temendo que esse bastardo arruinasse a aliança entre os reinos, ele procurou Gunnhild, uma feiticeira temida que vivia além das muralhas.
Gunnhild revelou que a criança seria mais do que um simples bastardo — ele carregaria em si uma força capaz de unificar os reinos e destruir as muralhas. Desesperado, Gudrun ofereceu sua alma em troca de um feitiço que eliminasse Lagertha e seu filho.
Para conjurar o feitiço, três itens eram necessários: um fio dos cabelos ruivos de Lagertha, gotas de sangue de seu amante e um pedaço de carne dado de bom grado. Com esses elementos, Gunnhild invocou Jotun, o demônio da morte, que prometeu habitar o corpo de Lagertha e reivindicar sua alma e a de seu filho no momento do parto.
Enquanto as trevas conspiravam contra ela, Lagertha recebeu a visita de Siv, uma anciã selvagem conectada aos espíritos da natureza. Siv teve uma visão: para salvar uma vida, outra teria que ser sacrificada. Lagertha precisaria escolher entre sua própria vida e a de seu filho.
Com coragem e amor, Lagertha escolheu salvar seu filho. O sacrifício criou um selo mágico que aprisionou o demônio, mas condenou o menino a uma vida de solidão e poder. Criado por Siv, ele cresceu sem conhecer sua verdadeira origem, tornando-se o guardião dos selvagens e um guerreiro formidável.
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Nas terras além das muralhas, o poder era comandado por Ragnar, o implacável protetor dos bárbaros. Mestre em combate, Ragnar era conhecido por sua força descomunal e por não demonstrar piedade com seus inimigos. Apesar de sua natureza selvagem, ele era justo e respeitado por seu povo.
Poucos sabiam que Ragnar carregava dentro de si uma maldição — o resquício de um pacto sombrio que moldava seu destino.
— Este ano, o cetro do poder ficará com o Herdeiro do Vento — comentou Erik, amigo de Ragnar. — Ouvi rumores de que ele abdicou do trono.
— Pouco me importa o que acontece dentro das muralhas — retrucou Ragnar com desdém. — Aqueles príncipes frágeis não ousariam pisar em nossas terras. Se o fizerem, mostrarei o que é ser um verdadeiro rei.
— Mas e a profecia? — insistiu Erik.
— Profecias são apenas palavras de velhos tolos. — Ragnar cortou, mas sua expressão endureceu.
O líder bárbaro sabia que as forças do destino estavam em movimento, e que, eventualmente, o passado e o presente colidiriam, trazendo consigo uma tempestade capaz de mudar Wester para sempre.
O menino, agora um jovem, não sabia que seu destino estava entrelaçado com o de Bjorn, Lagertha e os reinos que desprezavam seu povo. Ele era o guerreiro que a profecia anunciara: aquele que derrubaria as muralhas e unificaria os cinco reinos sob uma única bandeira.
E, em breve, seu nome seria conhecido em todos os cantos de Wester.
O sol nascia lentamente sobre os vales verdejantes da Terra Média, pintando o céu com tons dourados e rosados. A paz conquistada com tanto sacrifício, pairava como uma canção suave nos corações de todos.O mundo havia mudado.Não existiam mais muros separando as nações. Não havia mais reis e povos vivendo sob a sombra da guerra e do medo.O sonho de Ragnar se tornou realidade.No alto do castelo, Ragnar Thorsen estava em pé, contemplando a vastidão de seu reino. Ao seu lado, Astrid, sua eterna rainha, segurava sua mão. O vento suave acariciava seus cabelos e os envolvia em um abraço invisível, como se os deuses estivessem ali, testemunhando aquele momento de serenidade.—
O sol da tarde banhava os corredores do castelo com um brilho dourado e acolhedor. Hella estava sentada em um banco de madeira, perto dos jardins internos, enquanto penteava seus longos cabelos escuros. Ao seu lado, Kiara, irmã de Ragnar, falava com empolgação, os olhos azuis brilhando de alegria.— Você não vai acreditar, Hella! Ele é diferente de todos os outros… — Kiara sorria largo, mexendo nos próprios cabelos com nervosismo. — Ur é forte, destemido… mas ao mesmo tempo, tão gentil comigo. Ele me trata como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo.Hella riu, encantada com o entusiasmo da tia.— Você está completamente ap
A sala do grande salão estava iluminada com tochas que lançavam sombras dançantes pelas paredes. O cheiro de carne assada, pão fresco e especiarias preenchia o ar, enquanto todos riam e conversavam animadamente, ao redor da longa mesa de madeira.Ragnar estava sentado à cabeceira, com Astrid à sua direita e Bjorn à esquerda. Erik e Sigrid, Sigurd e Ylva, Fredo, Rolf e Thyra, todos estavam presentes. Thor e Bodilla riam juntos e até os mais jovens se divertiam. No entanto, uma ausência importante não passou despercebida pelo Meishu.Ragnar olhou ao redor, seu olhar perscrutando cada canto da sala. Ele franziu o cenho e bateu a mão na mesa, fazendo todos se calarem. A risada de Erik foi interrompida no meio.— Onde está Hella? A lua cheia iluminava o céu como uma guardiã silenciosa, testemunhando o encontro de duas almas apaixonadas. Thor e Bodilla estavam às margens de um riacho escondido na floresta. O som suave da água misturava-se ao farfalhar das folhas e ao som das respirações apressadas de dois jovens que finalmente se entregavam ao amor.Thor observava Bodilla com um olhar que era ao mesmo tempo reverente e desejoso. Ela estava linda com os cabelos negros soltos e os olhos tão brilhantes quanto as estrelas acima deles. Ele se aproximou lentamente, a mão pousando de forma suave em sua bochecha.— Bodilla… — ele murmurou, sentindo o coração bater acelerado. — Eu esperei por este momento minha vida inteira.Cap 152 - O Romance toma conta da Terra Média
O sol se punha lentamente, pintando o céu com tons de laranja e dourado. O lago refletia as cores do céu, criando um cenário sereno e mágico. Ragnar e Astrid estavam na água, com seus corpos parcialmente submersos. Ele segurava sua amada nos braços enquanto ela descansava a cabeça em seu ombro, os olhos fechados, aproveitando o momento de paz após se amarem com paixão e entrega.— Poderíamos ficar aqui para sempre… — murmurou Astrid, com um sorriso sonolento.— Se for com você, eu ficaria sem pensar duas vezes — Ragnar beijou sua testa e respondeu com um tom calmo.O leve som de passos na beira do lago os fez abrir os olhos. Uma figura alta, com cabelos dourados e os mesmos olhos azul-acinzentados do pai, se aproximava com hesitação. Era Anton, o filho do meio, com seus dezessete anos. Ele parecia nervoso, passando a mão pelos cabelos em um gesto habitual.— Pai? — Anton chamou, parando na margem com um sorriso sem jeito. — Eu… posso falar com você?Astrid se ajeitou com delicadeza e
Dezoito Anos Após a Grande GuerraA Terra Média florescia como nunca antes. As nações viviam em harmonia com humanos e criaturas místicas convivendo lado a lado. O nome de Ragnar Thorsen, o Meishu, era reverenciado em todos os cantos do reino. Não apenas como rei, mas como o homem que uniu povos, superou o ódio e trouxe paz a um mundo dilacerado.Ragnar, agora com quarenta e três anos, observava seu reino do alto da torre de seu castelo. O vento soprava em seu rosto enquanto ele admirava a vastidão de terras que um dia foram palco de inúmeras e sangrentas guerras. Seus lábios se curvaram em um sorriso ao relembrar suas vitórias e sacrifícios.Atrás de si, Astrid se aproximou sorrindo, trazendo consigo a serenidade que ele tanto amava. Seu olhar caiu sobre seu ventre, onde tantas histórias foram escritas.— Pensando no passado, minha luz? — perguntou ela, envolvendo seu braço ao redor da cintura dele.— E no presente… — ele respondeu, beijando sua testa. — Nosso legado… nossa história.
Último capítulo