CAPÍTULO 120.
Darina.
Acordei com os raios de sol entrando no quarto, invadindo as frestas das cortinas e se espalhando pelo chão. Não tocam meu rosto, só esquentam o vazio. O quarto é estranho. As paredes são muito brancas, os móveis são limpos demais, e tem um cheiro de coisa cara que não me pertence. Minha cabeça pulsa. Uma dor surda que me lembra que estou viva. Infelizmente.
Lembro vagamente da noite passada. Do gosto de comprimidos na boca, da sensação de flutuar. Lembro da água do banho, quente demais ou fria demais, não sei. Lembro da ausência. E da vontade de sumir junto com ela.
A minha mãe. Ela se foi. Só isso já deveria ser motivo pra eu deixar de existir. Porque, no fundo, tudo o que eu fazia era pra ela. Eu era um corpo com um propósito simples: pagar contas, comprar remédios, ouvir médicos falarem em termos técnicos como se minha mãe fosse só mais um número. Eu aguentava. Eu sorria quando precisava. Eu era uma muralha. Ou achava que era. Mas até muralhas desabam. E a minha caiu. De