CAPÍTULO 121.
Eliyahu Prokhorov.
Observo-a atentamente enquanto ela almoça connosco. Meus olhos fixos nela, embora eu finjo mastigar. A comida desce seca. Minha família está entretida na conversa, rindo, trocando palavras banais como quem varre poeira para debaixo do tapete. Como sempre fazem.
São raras as vezes que estamos todos reunidos. E talvez por isso ninguém queira tocar no que realmente importa. No que incomoda. No que dói. No que fede.
Mas eu não sou assim. Não consigo fingir que não vi. Que não percebi.
Enquanto ela leva a colher à boca, o movimento sutil da mão revela algo que me inquieta. O dedo mindinho da mão direita dela… está cortado ao meio. Mal cicatrizado, a pele parece enrugada onde a carne já não existe mais. Uma ferida antiga, mas não o suficiente para ser esquecida.
Quando a conheci, ela não tinha nenhuma mutilação visível. Nenhuma marca desse tipo. Era só mais uma adolescente remendada por dentro, com olhar de bicho assustado, dessas que a gente acha que pode salvar, mas que