E se o amor desafiasse tudo o que você acredita? O que poderia ser apenas uma atração passageira se transforma em algo mais profundo — algo que nem a razão de Carly nem a fé de Pedro conseguem ignorar. Após uma tragédia que abalou sua vida, Carly abandonou suas crenças e se refugiou em escolhas racionais. Para ela, confiar em sentimentos é abrir espaço para a decepção, e acreditar no invisível é um risco que não está disposta a correr. Seu mundo agora é concreto, onde certezas valem mais do que promessas. Pedro, por outro lado, construiu sua vida sobre fé, propósito e compromisso com Deus. Médico e líder respeitado na igreja, ele acredita que algumas escolhas não podem ser negociadas — até que Carly surge, desafiando seus sentimentos. Nos corredores do hospital, seus caminhos se cruzam. Carly vê em Pedro um homem preso a dogmas, enquanto ele enxerga nela alguém que luta para não crer. Para Pedro, esse encontro não é uma coincidência, mas sim um propósito maior de Deus. A comunidade que antes o admirava agora o observa com desconfiança. O jugo desigual o afastará do caminho sagrado? Carly e Pedro enfrentam a pressão dos preconceitos e a difícil escolha entre seguir o que sempre acreditaram ser certo ou se permitir viver o que sentem. Carly seria apenas uma distração para Pedro? Ou ele estaria disposto a lutar, mesmo que sua família e líderes se opusessem? Entre feridas abertas, reconciliação e a busca pelo perdão, ambos precisam enfrentar o desconhecido. Quando tudo parece indicar que esse amor não deveria existir, será que ele ainda pode prevalecer?
Leer másA madrugada parecia mais silenciosa do que nunca quando Carly e Monteiro voltaram para o carro. O vento leve batia nos cabelos dela enquanto caminhavam, sem pressa, como se ambos quisessem esticar o pouco tempo que ainda tinham juntos.Monteiro, sempre atento, abriu a porta do carro para ela, com um sorriso de canto, quase despreocupado, mas seus olhos não negavam o cansaço e a tensão contida pela noite intensa. Seus olhos pesavam, só queria chegar em casa e dormir.Então, Carly acomodou-se no banco e fechou os olhos por um instante, sentindo a vibração suave do motor ligando. Monteiro soltou um suspiro, ligou o farol e partiram, deixando para trás a penitenciária feminina e a figura sombria de Marta, que ainda ecoava em sua mente.No interior do carro, era nítida a sonolência em meio a um silêncio denso pela estrada. De repente Carly se espantou.— Você está bem? — Monteiro perguntou, mantendo os olhos na estrada.Ela assentiu, olhando para a janela, onde as luzes de uma vila começav
O carro deslizou pela estrada de forma quase imperceptível, como se os faróis fossem os únicos olhos atentos naquele fim de noite. Carly mantinha as mãos no volante com firmeza, mas a sua respiração denunciava a preocupação. Ao lado, Monteiro mantinha-se sereno, como um pilar silencioso.Nenhum dos dois falava. O rádio estava desligado. Por fora parecia tudo tranquilo, mas por dentro inquietante. Aquele silêncio que antecede um mergulho.— Ainda dá tempo de voltar? — Murmurou, com os olhos fixos na estrada.— Quer dar para trás? Acredito que se formos, vai me agradecer depois... — respondeu Monteiro.Ela estava olhando de relance para ele, indignado. Acrescentou: — Poxa Carly, você já foi até aquele fim de mundo procurar ela. Agora vai desistir?— É, mas agora não sei se quero continuar com isso.— Tenha coragem. Estamos chegando. — Ele apontou com o dedo, onde deveria estacionar. — Para perto daquela viela. Carly estava a alguns metros de distância. Ficou parada, encarando o própri
O fim da tarde tingia o céu com tons suaves de laranja e dourado, enquanto Carly e Serina dividiam uma taça de sorvete, sentadas em uma mesa próxima à vitrine da sorveteria favorita da infância. Os avós moraram ali por anos, a mãe tinha crescido naquela rua.O lugar não havia mudado tanto, o letreiro "Gelato Kadosh" ainda piscava em azul neon. As mesas redondas com cadeiras coloridas, o som suave de um sax ao fundo. O aroma de casquinhas frescas misturava-se com risadas de crianças, e a sensação era reconfortante.Carly deu uma risadinha leve, o olhar perdido na rua.— Acabei falando sobre aquele assunto com Pedro. — Suspirou, como quem tira um peso dos ombros.Serina levantou os olhos, com espanto.— Carline, você foi atrás dele? — Indagou, enquanto pegava uma colherada de sorvete. — Quer dizer, você ama ele mesmo.A irmã passou o dedo pela lateral do copo onde derretia a combinação clássica: chocolate, baunilha e creme. O trio que nunca falhava.— Apesar de tudo... ainda gosto muito
O silêncio que caiu entre eles era espesso, quase palpável. Apenas os dois, frente a frente, envoltos pelas palavras que haviam dito, pelo passado que haviam rasgado em voz alta. A lasanha esfriava, esquecida sobre a mesa, mas a verdade... essa fervia.Carly se inclinou ligeiramente. Seus olhos, cravados nos dele, tinha algo de incômodo e hipnótico ao mesmo tempo.— Pedro... — sua voz saiu baixa, mas firme. — Você realmente me ama?A pergunta pegou-o desprevenido. Ele assentiu sem pensar, instintivamente, mas ela não sorriu.— Você me ama... mesmo — ela se levantou com calma, aproximando-se. — Ou ama a ideia de me ter?Pedro mordeu o lábio inferior. Um gesto automático, denunciando a culpa que lhe pesava no peito. Seus passos eram leves, quase silenciosos. Ele a seguiu com o olhar, tenso, como se esperasse que ela se transformasse a qualquer instante. Havia algo diferente nela, algo que ele não conseguia decifrar. Então, num movimento quase imperceptível, ela inclinou-se e o beijou.
A noite descia como um véu sobre a cidade, encobrindo as ruas num silêncio morno. Carly ficou na porta, observando o carro de Helena desaparecer na esquina, até que o último feixe de luz dos faróis sumisse. Suspirou profundamente. O discipulado daquela noite tinha mexido com ela. Mas agora, outra visita era esperada. E não era nada espiritual.Pedro havia mandado uma mensagem rápida: “Como pediu, vou passar já aí.” Foi até o banheiro, onde a água quente caiu sobre os ombros como uma cascata de memórias. Lembrou-se de Letícia. Do rosto molhado de lágrimas, da dor escondida por trás da compostura. Ela precisava ouvir o que Pedro tinha para dizer. Precisava saber se ele era realmente quem dizia ser… ou quem queria que fosse. Ao sair do banho, colocou o roupão azul felpudo, secando ligeiramente os cabelos úmidos com a toalha. Sentiu-se estranhamente confortável com o contraste entre das pantufas laranjas e o toque do perfume que espalhou pelos pulsos e pescoço. Um detalhe bobo, talvez,
A manhã começava arrastada para Carly. Ela voltou para casa bem cedo. O celular vibrava em cima da mesa, e o nome que apareceu na tela fez seu coração pular uma batida. Ela ficou surpresa.Helena: “Oi, querida. Vamos manter nossa lição de discipulado hoje?”Carly ficou olhando para a mensagem por um tempo. Seus dedos pairaram sobre o teclado. Não esperava aquilo. Depois do término com Pedro, acreditava que Helena tomaria partido do filho e a ignoraria — ou, pior, a rejeitaria.Mas ali estava ela. Com sua suavidade habitual. Como se nada tivesse mudado.Carly respondeu:“Sim, claro. Podemos sim.”E logo em seguida, teve uma ideia. Algo que poderia soar loucura... ou coragem. Então, decidida, pegou sua bolsa e saiu para o trabalho. No hospital, o ambiente era silencioso, exceto pelo murmúrio distante de conver
O relógio marcava quase meia-noite quando Carly saiu da sacada e voltou para o sofá. Ainda restava uma fatia de pizza, na caixa aberta sobre a mesinha de centro, a garrafa de refrigerante pela metade. Serina já havia recolhido os pratos e Letícia secava os olhos, com o rosto ainda corado da emoção.— Eu não sei nem o que dizer — murmurou Carly, quebrando o silêncio.— Não precisa dizer nada. — Letícia respondeu, com a voz baixa, mas firme.— Mas eu quero — Carly insistiu. — Quero dizer que... sinto muito. Por tudo o que você viveu. Pela forma como ele te tratou. Por eu ter me envolvido nessa história. E... obrigada por ter me contado.Letícia assentiu, mordendo o lábio inferior, como se ainda lutasse contra as palavras que restaram engasgadas. Serina voltou à sala com um cobertor leve sobre os ombros.— Acho que ninguém aqui vai dormir tão cedo — disse, com um sorriso cansado.Carly olhou para as duas.— Sabe o que me dói? Não é só saber que ele foi capaz de fazer isso. É saber que, e
O céu estava começando a escurecer quando Pedro deixou o hospital. O plantão havia sido longo, mas o cansaço em seu corpo não era nada comparado ao turbilhão emocional que o corroía por dentro. Ele dirigiu pelas ruas com os olhos pesados, a cabeça cheia de frases interrompidas, a dor latente de um rompimento que ele não conseguiu evitar. Carly havia dito que não sabia o que queria. Aquilo não havia sido apenas um adeus — foi um corte silencioso que sangrava por dentro.A sensação de ser deixado para trás enquanto ela escolhia outro caminho... outro homem... o dilacerava.Sem saber exatamente para onde ir, acabou parando em frente à casa de Felipe, na esperança de encontrar refúgio, na presença de um amigo. Talvez conversar, esquecer por alguns instantes que seu mundo parecia ter virado do avesso.Felipe estava no sofá da sala, com a televisão ligada em volume baixo, quando ouviu a campainha. Ao abrir, o encontrou com uma expressão cansada e os olhos visivelmente abatidos.— E aí, irmã
O café estava quase vazio naquela manhã. O som leve de uma música instrumental preenchia o ambiente elegante, com o aroma de grãos recém-moídos e croissants recém-assados. Pedro já estava lá, sentado no canto mais afastado, com um cappuccino fumegante sobre a mesa de madeira rústica. Seus dedos tamborilavam nervosamente no celular, algo incomum para um homem tão controlado. — Desculpa o atraso, acordei atrasada. — Disse Carly, puxando a cadeira à frente dele. Pedro ficou por um momento em silêncio, com o olhar indecifrável. Trazia o mesmo charme discreto, mas algo parecia mais... contido. Menos entregue. Talvez mais distante.— Oi, bom dia! Finalmente conseguimos nos ver. Por que não atendeu as minhas ligações?Ela deu um sorriso, sem graça. — Eu... estava sem tempo. Sua mãe foi lá em casa e depois acabei caindo no sono.Ela mentiu, na verdade, passou a noite em claro ensaiando palavras que agora pareciam inúteis. — Na verdade, você parece cansada.— Ontem o dia foi puxado no hosp