A noite anterior não saía da sua cabeça: a voz vibrante ao telefone, a ameaça velada, uma crise antiga que pensava ter cessado estava voltando à superfície. Monteiro passara a madrugada em sua casa, deitado ao seu lado no sofá, escutando suas lembranças, montando as peças daquele quebra-cabeça.
Quando o sol finalmente raiou, ele ainda estava ali. Cochilara na poltrona, enquanto Carly tentava dormir no quarto, mas apenas se revirava entre os lençóis. O relógio marcava 08h50 da manhã, quando o som do interfone quebrou o silêncio da casa.
Ela atendeu com hesitação.
— Entrega para Carline.
Então saiu, desconfiada, com Monteiro vindo logo atrás.
Ao abrir o portão, um entregador, sorridente, lhe deu uma pequena caixa envolvida em papel kraft. Não havia remetente. Apenas seu nome e o endereço. De volta à sala, ela abriu aquilo com cuidado. Dentro, havia uma foto antiga com uma data no verso, era ela criança brincando no parque com um garoto ao lado fantasiado. Junto, havia um bilhete: "Você