O silêncio na cozinha da Casa do Lago era uma coisa viva, palpável. O drip… drip… drip lento e irregular da torneira que não fechava direito, o roçar quase imperceptível do pano na porcelana do prato que eu secava, o tilintar metálico da faca de pão repousada sobre a bancada. Sons domésticos. Sons de uma vida que eu não vivia, mas interpretava com uma devoção de ator premiado.
— Bom dia — a voz de Virgílio era como o resto dele: suave, educada, e carregada de uma autoridade que não precisava ser vocalizada. Soou como se ele sempre tivesse estado ali. Ele estava parado atrás de mim, apoiado em sua bengala, seu fraque impecável parecendo absurdamente formal para aquele ambiente. Seu sorriso era calmo, quase paternal, mas seus olhos… seus olhos eram dois pedaços de ametista, vendo tudo. — Bom dia, senhor, — respondi, minha voz deliberadamente relaxada, tingida com o respeito que "Leo" naturalmente teria