4 - Case comigo

O relógio do saguão já marcava quase seis da tarde quando Isadora deixou sua sala. O salto alto ecoava pelos corredores de vidro e mármore, sua postura ereta ainda denunciava cansaço, mas também a autoridade natural que a acompanhava em cada passo.

Pensava apenas em chegar em casa, tomar um banho e esquecer, por algumas horas, a frustração do dia. Mas sabia que ao chegar em casa havia um grande problema para resolver.

Ao menos acreditava que era seu próximo problema, até a secretária correr em sua direção com uma expressão aflita.

— Senhora Monteiro! — a jovem parecia nervosa, segurando um tablet nas mãos. — A senhora precisa ver isso.

Isadora ergueu uma sobrancelha, impaciente.

— O que é?

A secretária entregou o aparelho sem dizer mais nada. Na tela, um portal de fofocas estampava em letras garrafais:

“CEO da MEPERA technology flagrada entrando em hotel de luxo com homem misterioso.”

Abaixo, uma foto nítida dela caminhando ao lado de Henrique, embora não desse para ver o rosto dele. Sua mão estava na cintura dela, e juntos eram a imagem perfeita de um casal em clima de intimidade.

O estômago de Isadora se revirou. A legenda insinuava um romance secreto, e o texto questionava “quem seria o novo namorado da empresária mais disputada do país”.

— Isso saiu esta tarde — explicou a secretária, aflita. — Está em todos os sites de entretenimento e até em algumas colunas financeiras. Os sócios já ligaram várias vezes pedindo explicações e exigiram uma reunião.

Isadora sentiu a cabeça latejar novamente.

— Onde eles estão? — perguntou, com a voz mais irritada do que gostaria.

— Reunidos na sala de conselho. Estão esperando a senhora.

Sem tempo para respirar, ela se dirigiu até lá.

A sala de reuniões parecia um tribunal. Do outro lado da mesa retangular, os rostos sisudos de oito homens mais velhos a observavam como se ela fosse uma ré em julgamento. Documentos estavam espalhados, e a manchete aberta em notebooks e celulares denunciava a pauta da reunião.

— Finalmente — disse Douglas, o sócio mais antigo, cruzando os braços. — Quer nos explicar o que significa essa palhaçada, senhorita Monteiro?

Ela puxou a cadeira na ponta da mesa, sentando-se com calma. Sabia que, diante deles, fraqueza não era uma opção.

— Não tenho obrigação de explicar minha vida pessoal.

— Não se trata da sua vida pessoal — rebateu outro, com voz irritada. — Se trata da imagem da empresa. A CEO fotografada entrando em um hotel com um desconhecido? Isso pode nos custar contratos, investidores, confiança de clientes.

Os outros murmuraram em concordância.

Isadora manteve a expressão inexpressiva, mas por dentro sentia a pressão esmagar cada nervo.

— Vocês estão exagerando — disse, mas ninguém pareceu convencido.

— Exagerando? — Douglas bateu a mão na mesa. — Estamos falando de uma empresa avaliada em bilhões! Não podemos ter uma escândalo romântico manchando a reputação da nossa liderança. Você precisa dar uma explicação plausível para a imprensa.

Isadora piscou lentamente, respirando fundo. Podia sentir a armadilha se fechando. Não podia admitir que tinha sido enganada por um golpista qualquer. Isso seria suicídio profissional.

E foi nesse instante que sua boca se moveu antes mesmo de o cérebro raciocinar.

— Ele não é um desconhecido. — As palavras escorregaram. — É meu noivo.

O silêncio que se seguiu foi demorado. Todos os sócios a encararam boquiabertos.

— Seu… noivo? — repetiu um deles, incrédulo.

— Exatamente — continuou, erguendo o queixo, como se aquilo fosse uma verdade absoluta. — O homem que vocês viram nas fotos é meu noivo. Estamos juntos há algum tempo e em breve será apresentado oficialmente a todos, na festa de noivado que estou preparando.

Um dos sócios pigarreou, desconfiado.

— Por que não sabíamos de nada?

— Porque é algo íntimo e pessoal. — respondeu Isadora sem hesitar. — E eu queria manter em sigilo até o momento certo, para não fazer alarde sem ter certeza do relacionamento. Mas já que a imprensa resolveu antecipar as coisas… — abriu um sorriso que pareceu sincero. — Não vejo mais motivos para esconder.

Os homens trocaram olhares entre si, alguns surpresos, outros visivelmente desconfortáveis. Nenhum ousou contestar abertamente. Na verdade, acharam que era uma ótima notícia. Uma CEO casada passaria uma imagem mais séria e tradicional.

Isadora aproveitou a brecha para se levantar, recolhendo sua pasta.

— Se me dão licença, tenho um noivo para encontrar.

Saiu antes que pudessem fazer mais perguntas.

De volta ao escritório, fechou a porta atrás de si e deixou escapar um suspiro pesado e encostou-se à mesa.

— Noivo... — murmurou para si mesma, quase rindo da própria ousadia.

A mentira havia saído por impulso, mas agora era irreversível. E quanto mais pensava, mais percebia que poderia transformá-la em estratégia.

Isadora sentou-se, abriu o notebook e começou a digitar. Palavras surgiam na tela, pensadas e calculadas.

Contrato de Casamento.

O título apareceu em letras claras. Ela respirou fundo e continuou.

Se o escândalo ameaçava sua reputação, um noivado súbito poderia salvá-la. O público adorava histórias de amor, investidores amavam estabilidade familiar, e os sócios não poderiam acusá-la de nada se houvesse um anel no dedo.

Além disso, havia algo dentro dela, que era mais do que vingança. Orgulho. A necessidade de provar que aquele homem não a havia enganado, não de verdade. Que ela podia domá-lo, controlá-lo, transformá-lo em uma marionete.

Se ele teve a audácia de roubá-la, ela teria a audácia de transformá-lo em marido.

Os termos surgiam um a um: cláusulas de confidencialidade, obrigações sociais, divisão de bens e regras de convivência.

Quando terminou, já passava das nove. Salvou o arquivo, imprimiu, fechou o computador e pegou a bolsa.

Em alguns minutos, quando chegasse em casa, não teria apenas um golpista à sua frente. Teria seu futuro marido.

[...]

Isadora entrou em casa e encontrou-o sentado no sofá. Ele ergueu os olhos e arqueou uma sobrancelha, com aquele ar de sarcasmo que só servia para atiçar sua vontade de esmagá-lo.

Henrique se remexeu no sofá, tentando se mostrar seguro, como se nada fosse capaz de intimidá-lo.

— Então é você. A senhorita poderia me entregar para a polícia, poderia expor todos os meus golpes, poderia arruinar minha vida em poucas horas — disse ele, relaxando no sofá, os braços abertos como se achasse que poderia se livrar dela facilmente. — Então, por que não fez isso ainda?

Isadora se sentou e entrelaçou os dedos sobre a mesa.

— Porque, ao contrário de você, eu penso antes de agir. — Ela se inclinou para frente, aproximando-se dele. — E porque encontrei uma utilidade melhor para você do que vê-lo mofando em uma cela.

Henrique arqueou a sobrancelha, curioso apesar de tudo.

— Utilidade? — repetiu, com o sorriso cínico ainda preso nos lábios.

— Sim. — Ela avaliou o rosto dele de cima a baixo, como se analisasse um produto prestes a ser adquirido. — Admito que sua aparência é aceitável… até atraente, para os padrões do que se espera de alguém ao meu lado. Um homem como você pode enganar facilmente, sorrir para meus conhecidos e sustentar uma imagem convincente. — Falou e então pensou que seria melhor evitar câmeras, devido ao histórico do marido.

Ele piscou, sem entender do que ela estava falando.

— Você quer que eu seja seu brinquedo de exibição ou algo assim?

Isadora sorriu, mas não com diversão.

— Quero que você seja meu marido. Oficialmente.

Henrique gargalhou, inclinando a cabeça para trás. O som ecoou, mas foi diminuindo quando percebeu que ela não ria junto.

— Você só pode estar brincando. — Ele se endireitou, encarando-a. — Está falando sério?

— Completamente. — Ela abriu a pasta que carregava e retirou o contrato já pronto. — Por mais incrível que pareça, estou lhe dando uma chance.

— Uma chance?

— Sim. Uma chance de evitar que sua vida acabe agora. Você tem uma única opção: aceitar meu acordo.

Foi então que, firme e sem desviar o olhar, ela declarou:

— Ou você se casa comigo… — disse ela, deslizando o contrato sobre a mesa, seus olhos fixos nos dele. — …ou eu te faço pagar pela ousadia de tentar enganar Isadora Monteiro.

Ele riu, ainda achando que era brincadeira, mas o sorriso dela aumentou quando percebeu a tensão crescendo nos ombros dele.

— A escolha é sua, mas aviso que eu nunca perdi antes. O fato de você me enganar, me deixou bastante... chateada. Admito que foi corajoso, mas sua coragem custará um alto preço se não fizer o que estou mandando.

Isadora tinha certeza que ele faria o que ela deseja e teria o prazer imenso de tê-lo completamente à sua mercê. Ninguém jamais ousou passar a perna nela, por isso seu desejo de vingança contra o golpista seria implacável.

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