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5 - Se acostume a ficar preso, amor

Henrique pegou o contrato com um movimento rápido, disse a si mesmo que aquilo era apenas mais uma jogada em um dos muitos truques que já havia feito. O papel era pesado, a capa encadernada refletia a luz dourada da luminária, e cada linha parecia carregar não só obrigações, mas correntes invisíveis. Ele leu devagar, os olhos deslizando por cláusulas de convivência, sigilo absoluto, obrigações sociais, divisão de bens e até o que ele podia ou não fazer longe com outras pessoas.

A cada parágrafo, seu sorriso cínico ia diminuindo.

— Você pensou em tudo… — murmurou, quase admirado.

Isadora ergueu o queixo, cruzando as pernas com elegância.

— É claro que sim. Não sou o tipo de mulher que deixa pontas soltas.

Ele ergueu os olhos para ela, avaliando. Por um momento, parecia que iria recusar, que jogaria o contrato de volta na mesa e sairia dali gargalhando. Mas então, suspirou fundo, e disse:

— Me arruma uma caneta.

Isadora não se mexeu. Apenas fez um pequeno gesto com a mão e um dos seguranças se aproximou, entregando-lhe uma Montblanc preta, reluzente. Henrique a girou entre os dedos, como se fosse uma arma.

Com um floreio, assinou seu nome e sobrenome na última página. A tinta deslizou sem hesitação até que Henrique Cooper estivesse completo noo papel.

— Pronto. — disse ele, empurrando os papéis de volta para ela. — Agora já está feliz?

Levantou-se de repente, ajeitando a camisa que usava, e a olhou com impaciência.

— Posso ir embora então?

O olhar de Isadora para ele foi quase assassino. Isso fez Henrique se pergunta se ela não estava planejando matá-lo e se tornar uma triste, porém, respeitável viúva.

— Não.

Ele riu, descrente.

— Não?

— É óbvio que não. — Ela se levantou também, caminhando em direção a ele. Sua presença era tão intensa que parecia preencher todo o ar e Henrique achava isso tão sufocante quanto sedutor. — Eu conheço muito bem o seu histórico de fugas, Henrique. Acha mesmo que vou me arriscar a deixar você sumir?

Henrique tentou sustentar o olhar, mas havia algo de intimidador no controle absoluto daquela mulher.

— Então, o que vai fazer? Me manter preso aqui?

— Preso, não. — Ela sorriu, mas seus olhos permaneciam gélidos. — Mas sob vigilância, sim. Enquanto estivermos noivos, você vai morar nesta casa. Depois do casamento poderá sair, mas continuará sendo acompanhado por seguranças.

Ele bufou, rindo de nervoso.

— Parece mais um cárcere do que um casamento.

— Então se acostume com a ideia de ficar preso, amor. — A palavra veio seca, assim com a resposta em si.

Isadora apertou um botão discreto ao lado do sofá, e poucos segundos depois Clarice, a governanta, surgiu à porta. Era uma mulher de meia-idade, que trabalhava na casa desde a época do pai de Isadora, cabelos presos num coque rígido com fios castanhos e grisalhos e um sorriso acolhedor.

— Senhora?

— Já disse para não me chamar assim só porque estamos na frente de visitas Clari, haja como sempre. — O sorriso doce que Isadora abriu causou um grande estranhamento em Henrique e uma revirada no estômago mais estranha ainda, que ele decidiu ignorar. — Acompanhe o senhor Cooper até o quarto de hóspedes. Ele ficará instalado lá a partir de hoje. Depois te conto quem ele é.

Clarice apenas assentiu, como se aquilo fosse mais um pedido trivial.

Isadora virou-se para os seguranças.

— Vocês dois, vão até o apartamento dele e tragam tudo o que pertencer ao Henrique. Roupas, documentos, qualquer coisa de valor. Quero tudo aqui antes da manhã.

— Sim, senhora. — Eles saíram sem questionar.

Quando se virou novamente, Henrique ainda a olhava, perplexo.

— Você é muito louca. — murmurou, mas havia mais incredulidade do que ofensa na sua voz.

— Só percebeu agora? Eu acabei de ficar noiva de um criminoso. Parece que combinamos muito bem — respondeu sussurando para que Clarice não ouvisse, antes de se virar e sair em direção à escada, como se tivesse acabado de encerrar a conversa.

Ela desapareceu pelo corredor, deixando-o entregue a Clarice.

— Por aqui, senhor. — disse a governanta, com voz calma e profissional.

Henrique a seguiu, ainda tentando entender como tinha ido parar naquela situação absurda. O corredor era longo, com paredes revestidas por obras de arte caras e tapetes importados. O silêncio da casa só era quebrado pelo som de seus próprios passos.

Quando Clarice abriu a porta do quarto de hóspedes, Henrique sentiu o estômago revirar de novo, embora fosse de um jeito diferente.

O espaço era maior do que qualquer apartamento em que já havia morado. Havia uma cama king-size impecavelmente arrumada, cortinas pesadas em tom marfim, uma poltrona de couro clara, uma mesa de apoio com flores frescas e até uma varanda privativa com vista para a cidade iluminada. O banheiro, visível pela porta entreaberta, tinha mármore do chão ao teto e uma banheira de imersão que parecia convidar a esquecer o mundo.

Ele entrou devagar, como um estranho pisando em território inimigo.

— Alguma dúvida ou algo que deseje, senhor? — perguntou Clarice.

— Sim. — Ele se virou para ela, com um sorriso incrédulo. — O que diabos aconteceu com a minha vida?

Clarice não reagiu.

— Não sei dizer senhor, é a primeira vez que lhe vejo.

Henrique riu divertido com a resposta e acenou com a mão para ela.

— Obrigado, não preciso de mais nada.

Clarice assentiu e fechou a porta atrás de si, deixando-o sozinho no seu cativeiro de luxo.

Henrique jogou-se na cama, com as mãos no rosto. Riu sozinho, nervoso. Tinha entrado em muitos apartamentos, feito muitos golpes, enganado mulheres de todas as idades e classes sociais. Mas nenhuma delas jamais havia dado o troco. E certamente, nenhuma o havia colocado contra a parede daquela forma.

Agora, deitado em lençóis de algodão egípcio, ele se perguntava se tinha acabado de cair no maior golpe da sua vida.

No andar de cima, Isadora entrou em sua suíte. O quarto era ainda mais luxuoso que o de hóspedes, com móveis em carvalho escuro, lençóis em seda e uma vista panorâmica da cidade. Ela largou a pasta sobre a poltrona e finalmente tirou os sapatos, massageando os pés por um segundo.

Estava exausta, mas não permitiu que o corpo relaxasse por completo. Cada músculo ainda estava tenso, tomado pela adrenalina da noite.Pegou uma taça de vinho no aparador, serviu-se e caminhou até a janela. Daquela altura, as luzes da cidade brilhavam como estrelas artificiais.

Bebeu um gole, saboreando o gosto encorpado do vinho tinto, quando o celular tocou. Olhou para a tela e sentiu o sangue gelar por um instante: mãe.

Inspirou fundo e atendeu.

— Alô.

Do outro lado, a voz aguda e ansiosa da mãe surgiu em português, completamente irritada:

— Isadora! Que história é essa de que você vai se casar?!

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