Capítulo 39 - Dor.
Marina Salles
Quando atravessei a porta do desembarque, os olhos dele já estavam ali — fixos em mim. Foi como se o espaço entre nós encolhesse e meu peito se apertasse de um jeito que não vinha só do cansaço. Dante não caminhou: quase correu. Chegou até mim num passo reto, intenso, percorrendo meu corpo com um olhar que misturava raiva, alívio e um cuidado exagerado, como se tentasse provar para si mesmo que eu estava inteira.
— Você está bem? Fizeram alguma coisa com você? — ele perguntou, segurando meu rosto entre as mãos com força contida, como se tentasse ancorar algo ali.
Instintivamente, afastei-me do toque. Aquela proximidade que antes me aquecia agora me soava invasiva. O rosto dele, tão sério, ficou mais vulnerável quando notei o recuo. Havia tristeza nos olhos — uma tristeza que me pesou, que fez meu estômago revirar.
— Estou com muita raiva de você agora — falei, sem rodeios. A voz tremia, e eu senti o corpo inteiro cedendo sob a maré de emoções. — Antes que eu perca o meu