MARIA AMARAL
— Tem certeza que vai fazer isso? E se ele não estiver lá? — Candy pergunta enquanto termino de me vestir.
Naquela manhã, o motorista dele me deixou na casa de Candy. Amaymon apenas se levantou do sofá e seguiu pelo corredor. Foi nessa hora que o motorista apareceu me dizendo que era hora de ir. Sem um tchau sequer. Foi decepcionante. E quando já estava no caminho me critiquei por não ter insistido em ir atrás dele através do corredor, pelo menos exigir um adeus. Era assim que eu deveria agir se quisesse uma chance. Mas era tarde demais.
— Pelo menos eu me divirto vendo a cara daquela desgraçada. Só de pensar que aquele homem ia... Que ódio! Tudo por causa dela. Se não fosse o Seven...
— Te salvou e deu um belo trato na sua boceta jovem... — Apesar do tom brincalhão, me lembro como ela ficou assustada quando contei o que aconteceu no beco. Não me julguem. Duvido que ela conte a alguém... e não me pediram segredo.
Sorrio da sua tentativa de saber como terminou a noite.
— Não adianta. Eu não vou contar o que aconteceu.
— Estraga prazeres. — Ela mostra a língua. — Ainda estou perplexa por ele ter sorrido naquele lugar. Isso nunca aconteceu. — Ela suspira, dessa vez uma expressão séria surge em seu rosto. — Só toma cuidado. Seu sugar daddy não vai gostar de saber que fodeu uma boceta que ainda nem fez dezoito anos. Ele é um mafioso certinho, cheio de regras.
— Não saberá enquanto eu não conseguir colocar meu plano em prática.
— Que seria?
— Só da minha conta. — Rio.
Ela revira os olhos. Terminamos de nos arrumar e algum tempo depois entramos no salão.
Ninguém fala nada sobre o que aconteceu uma semana atrás, mas posso sentir os olhares curiosos sobre mim. O que não é estranho, já que protagonizei o show da última vez. Talvez esperem outro. Já eu, nem quero pensar em ser alvo de curiosidade por mais tempo.
— Acabei de saber que a primeira dama não trabalha mais aqui. Foi banida. — Candy conta com um sorrisinho debochado.
— Então quem é aquela? — aponto com um gesto de cabeça, a infeliz que tentou me ferir está entrando de braços dados com um velho asqueroso, com um vestido longo dourado de fenda até as coxa e decote exagerado.
— Isso vai dar confusão — ela murmura.
— Não se depender de mim. Ela pode ficar. Não pretendo trabalhar aqui de verdade, você sabe.
Para ilustrar, ignoro Amber por um longo tempo. Afinal tenho mais coisas para pensar, principalmente em como esse sapato está me machucando ao ponto de que sinto que está sangrando meus pobres dedos. Os sapatos de Amber são instrumentos de torturas, só pode.
— Acho que sua noite com o Seven não foi tão boa. — Candy diz com uma careta.
— Por que diz isso?
— Se tivesse sido, ele não estaria indo até ela.
Sigo seu olhar e vejo o homem que invadiu meus sonhos durantes esses dias. O homem que não me ligou para falar da chave, que simplesmente depositou uma quantia absurda na minha conta. Agora entendo porque. Ele não me quer. Pagou para se livrar de mim. Simples assim.
— Parece que não foi mesmo — murmuro desanimada. Amber está com um sorriso no rosto enquanto conversa com ele.
Fui muito tapada de acreditar, apenas porque fiquei jogando a noite toda com alguém, que ele era diferente. Diferente nada, só não me quis. Simples assim. Talvez ele prefira loiras... Ou só prefira qualquer uma que não seja eu.
Maldita vontade de chorar.
— Oi! — um homem para na minha frente quando eu estava prestes a ir ao banheiro chorar escondido, o mesmo da primeira noite que me abordou primeiro. — Vi que o rolo com o grandioso Seven não deu certo. Meu convite ainda está de pé, quer subir? — o jeito como ele menciona Amaymon é desdenhoso, tem um toque de inveja.
Por um momento, penso em ir com ele e deixar que use meu corpo. Não poderia fazer nada que já não fizeram. Seria apenas uma dor a mais, para cobrir essa sensação estranha de tristeza e vazio que o fora daquele homem causou.
— Desculpe, mas hoje não vai dar, já chamei um táxi para a Maria. Ela está um pouco doente. — Candy vem ao meu socorro, antes que eu faça algo que abra minhas feridas.
— Eu vou te dar um chá que vai te sarar rapidinho. — O cara inconveniente segura meu braço.
— Por favor, me solte — peço baixo. Não quero fazer outra cena aqui.
— Não quero. Devia tratar melhor os clientes, se quiser manter esse rostinho lindo como está. — Ele aperta, me fazendo gemer de dor e ter uma pequena prova do que pode fazer comigo.
— Tira as mãos da minha mulher — aquela voz ordena, fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar com o tom autoritário. O “minha mulher” fica repetindo sem parar na minha cabeça. Não quero sentir isso, mas gosto do tom, gosto das palavras... Ouvir isso tem um gosto tão doce.
Na mesma hora sinto alivio do aperto sumindo.
— Você vem comigo. — Dessa vez sinto seus dedos ao redor do meu pulso, firmes, mas sem machucar, ele me conduz para fora do lugar.