O Coração do Eclipse
Meus pĂ©s descalços ainda tocavam o chĂŁo queimado pela chama sombria que Atrael deixara para trĂĄs. A clareira ardia com brasas que nĂŁo consumiam madeira, mas realidade â um fogo que corroĂa a prĂłpria essĂȘncia do que Ă©ramos. E ali, entre os escombros, o silĂȘncio era absoluto. Um silĂȘncio que gritava.
As palavras de Atrael ecoavam dentro de mim como uma profecia selada em sangue:
"O fruto da vossa uniĂŁo..."
Minha mĂŁo foi ao ventre instintivamente. NĂŁo havia movimento. Nenhuma sensação fĂsica concreta. Mas o calor ali... nĂŁo era comum. Era vida. Ou uma promessa dela. Uma centelha.
Rafael se aproximou primeiro.
Ainda na forma humana, sua pele estava marcada por fuligem e suor, mas seus olhos verdes eram um templo de força. Ele ajoelhou diante de mim como se prestasse culto a um milagre. Sua mão cobriu a minha sobre o ventre, e quando nossos olhares se cruzaram, o mundo ao redor pareceu desacelerar.
â âVocĂȘ sente?â â ele sussurrou.
â âSinto...â â minha voz mal saiu. â â