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🌑 Capítulo 5

Onde o Instinto Começa a Falar Mais Alto

Acordei com o som da chuva tocando os vitrais altos da mansĂŁo.

As gotas batiam em cadĂȘncia, como um coração antigo batendo sobre o telhado da floresta.

Era estranho...

NĂŁo sentia medo.

NĂŁo sentia tristeza.

Sentia algo novo — um calor sob a pele, como brasas que começam a brilhar mesmo sem fogo visível.

Minha pele parecia viva demais. Meus sentidos, mais aguçados. Eu ouvia os estalos da madeira da casa, sentia o cheiro do musgo do lado de fora, e ouvia os passos
 mesmo que fossem quase silenciosos.

Rafael.

Estava me esperando. Eu sabia.

Podia sentir seu cheiro antes mesmo de sair do quarto. Um perfume quente, com fundo de terra molhada e vinho — tão masculino e elegante que minha respiração mudava só de pensar.

Vesti um robe de seda que encontrei dobrado sobre a cadeira. Vermelho escuro. Ele sabia.

Sabia o que me caĂ­a bem. Sabia como provocar sem tocar. Sabia como deixar marcas sem usar as mĂŁos.

Desci as escadas devagar, cada degrau rangendo suavemente. A mansão era um santuårio para os sentidos. Havia quadros de lobos antigos nas paredes, runas entalhadas, tapeçarias que dançavam com o vento que entrava por pequenas frestas.

E ele estava lĂĄ.

De pé, em frente à lareira acesa.

A luz do fogo acariciava seu rosto, realçando o corte preciso da mandíbula, os låbios firmes e os olhos verdes que me atravessaram no instante em que entrei.

— Bom dia, Alice — disse ele, com a voz baixa e líquida, como um rio de veludo.

— Ainda está chovendo? — perguntei, tentando disfarçar o quanto ele me afetava.

— A floresta está lavando o que precisa ir embora — respondeu, sem desviar os olhos.

— E o que precisa ir embora?

Ele se aproximou, como quem dança com a sombra.

— A dor. A dĂșvida. O eco da rejeição.

Engoli em seco.

— VocĂȘ fala como se jĂĄ tivesse sentido tudo isso.

— Já senti muito mais. — Seus olhos brilharam. — Mas hoje não estou aqui pra falar de mim.

Estou aqui... pra que vocĂȘ escute a si mesma.

— Como assim?

Ele estendeu a mĂŁo.

E eu, sem pensar, aceitei.

Seus dedos envolveram os meus com firmeza e ternura.

O toque disparou uma descarga elétrica sob minha pele. Como se meu corpo reconhecesse algo que minha mente ainda questionava.

Ele me guiou até uma porta que dava para os fundos da mansão.

Quando atravessamos, a floresta estava ali: Ășmida, escura, viva.

— Tire os sapatos — disse.

Obedeci.

— Fecha os olhos.

Fechei.

— Escuta.

O som da ĂĄgua escorrendo pelas folhas. O bater suave de asas de pĂĄssaros escondidos. O rosnado distante de algo que me reconhecia.

— Sente.

O vento tocando minha pele nua sob o robe. O cheiro de terra, de folhas, de magia molhada. O sangue correndo mais rĂĄpido. O instinto... chamando.

— Agora respira, Alice. E deixa vir.

Foi como se algo dentro de mim se abrisse.

Um véu que caía.

Uma porta que se escancarava.

Senti um calor começar no peito, descer para o ventre, crescer nas coxas.

Minhas mĂŁos tremeram. Meus olhos se abriram.

E a floresta estava diferente.

Mais nĂ­tida.

Mais viva.

Como se finalmente eu estivesse vendo o mundo como ele realmente era.

— VocĂȘ estĂĄ acordando — murmurou Rafael, parado ao meu lado, como se fosse um guardiĂŁo.

— O que está acontecendo comigo?

— VocĂȘ estĂĄ ouvindo o que sempre esteve aĂ­ dentro.

Seu lobo.

Meu coração disparou. A boca secou. A pele... queimava.

— Ele quer sair — sussurrei.

— Ele quer te libertar.

— E se eu não conseguir?

Rafael virou o rosto para mim, os olhos brilhando com uma intensidade bruta.

— VocĂȘ jĂĄ conseguiu.

VocĂȘ sĂł precisa parar de se desculpar por ser quem Ă©.

E então ele me puxou. Com uma firmeza que não era agressiva — era necessária.

Seus låbios tocaram os meus de novo, mas dessa vez não havia hesitação.

Era fome. Desejo. FĂșria contida.

Ele me apertou contra seu corpo, e senti o membro dele jĂĄ endurecido contra minha barriga, me fazendo arfar.

Minhas pernas fraquejaram. Meus braços se agarraram aos ombros dele.

O beijo cresceu, se aprofundou, se tornou quase uma fusĂŁo. Minhas mĂŁos deslizaram por dentro de sua camisa aberta, sentindo o calor da pele, os mĂșsculos rĂ­gidos, o cheiro animalesco.

— Rafael... — sussurrei, quando ele começou a descer os beijos pelo meu pescoço, mordendo leve, fazendo minha pele pulsar.

— Diga, Luna — ele murmurou, voz arrastada, respirando contra minha pele.

— Isso que vocĂȘ faz comigo... vai me destruir?

Ele parou por um segundo, apenas um.

E entĂŁo disse, com um sorriso escuro nos lĂĄbios:

— Vai.

Mas vai te refazer melhor.

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