Onde o Instinto Começa a Falar Mais Alto
Acordei com o som da chuva tocando os vitrais altos da mansão. As gotas batiam em cadência, como um coração antigo batendo sobre o telhado da floresta. Era estranho... Não sentia medo. Não sentia tristeza. Sentia algo novo — um calor sob a pele, como brasas que começam a brilhar mesmo sem fogo visível. Minha pele parecia viva demais. Meus sentidos, mais aguçados. Eu ouvia os estalos da madeira da casa, sentia o cheiro do musgo do lado de fora, e ouvia os passos… mesmo que fossem quase silenciosos. Rafael. Estava me esperando. Eu sabia. Podia sentir seu cheiro antes mesmo de sair do quarto. Um perfume quente, com fundo de terra molhada e vinho — tão masculino e elegante que minha respiração mudava só de pensar. Vesti um robe de seda que encontrei dobrado sobre a cadeira. Vermelho escuro. Ele sabia. Sabia o que me caía bem. Sabia como provocar sem tocar. Sabia como deixar marcas sem usar as mãos. Desci as escadas devagar, cada degrau rangendo suavemente. A mansão era um santuário para os sentidos. Havia quadros de lobos antigos nas paredes, runas entalhadas, tapeçarias que dançavam com o vento que entrava por pequenas frestas. E ele estava lá. De pé, em frente à lareira acesa. A luz do fogo acariciava seu rosto, realçando o corte preciso da mandíbula, os lábios firmes e os olhos verdes que me atravessaram no instante em que entrei. — Bom dia, Alice — disse ele, com a voz baixa e líquida, como um rio de veludo. — Ainda está chovendo? — perguntei, tentando disfarçar o quanto ele me afetava. — A floresta está lavando o que precisa ir embora — respondeu, sem desviar os olhos. — E o que precisa ir embora? Ele se aproximou, como quem dança com a sombra. — A dor. A dúvida. O eco da rejeição. Engoli em seco. — Você fala como se já tivesse sentido tudo isso. — Já senti muito mais. — Seus olhos brilharam. — Mas hoje não estou aqui pra falar de mim. Estou aqui... pra que você escute a si mesma. — Como assim? Ele estendeu a mão. E eu, sem pensar, aceitei. Seus dedos envolveram os meus com firmeza e ternura. O toque disparou uma descarga elétrica sob minha pele. Como se meu corpo reconhecesse algo que minha mente ainda questionava. Ele me guiou até uma porta que dava para os fundos da mansão. Quando atravessamos, a floresta estava ali: úmida, escura, viva. — Tire os sapatos — disse. Obedeci. — Fecha os olhos. Fechei. — Escuta. O som da água escorrendo pelas folhas. O bater suave de asas de pássaros escondidos. O rosnado distante de algo que me reconhecia. — Sente. O vento tocando minha pele nua sob o robe. O cheiro de terra, de folhas, de magia molhada. O sangue correndo mais rápido. O instinto... chamando. — Agora respira, Alice. E deixa vir. Foi como se algo dentro de mim se abrisse. Um véu que caía. Uma porta que se escancarava. Senti um calor começar no peito, descer para o ventre, crescer nas coxas. Minhas mãos tremeram. Meus olhos se abriram. E a floresta estava diferente. Mais nítida. Mais viva. Como se finalmente eu estivesse vendo o mundo como ele realmente era. — Você está acordando — murmurou Rafael, parado ao meu lado, como se fosse um guardião. — O que está acontecendo comigo? — Você está ouvindo o que sempre esteve aí dentro. Seu lobo. Meu coração disparou. A boca secou. A pele... queimava. — Ele quer sair — sussurrei. — Ele quer te libertar. — E se eu não conseguir? Rafael virou o rosto para mim, os olhos brilhando com uma intensidade bruta. — Você já conseguiu. Você só precisa parar de se desculpar por ser quem é. E então ele me puxou. Com uma firmeza que não era agressiva — era necessária. Seus lábios tocaram os meus de novo, mas dessa vez não havia hesitação. Era fome. Desejo. Fúria contida. Ele me apertou contra seu corpo, e senti o membro dele já endurecido contra minha barriga, me fazendo arfar. Minhas pernas fraquejaram. Meus braços se agarraram aos ombros dele. O beijo cresceu, se aprofundou, se tornou quase uma fusão. Minhas mãos deslizaram por dentro de sua camisa aberta, sentindo o calor da pele, os músculos rígidos, o cheiro animalesco. — Rafael... — sussurrei, quando ele começou a descer os beijos pelo meu pescoço, mordendo leve, fazendo minha pele pulsar. — Diga, Luna — ele murmurou, voz arrastada, respirando contra minha pele. — Isso que você faz comigo... vai me destruir? Ele parou por um segundo, apenas um. E então disse, com um sorriso escuro nos lábios: — Vai. Mas vai te refazer melhor.