O amanhecer em São Paulo nasceu pálido.
O tipo de luz que não aquece — apenas revela o que restou depois da tempestade.
Luiza abriu os olhos devagar. O quarto ainda cheirava a chuva e perfume, uma mistura confusa que parecia o resumo perfeito da noite anterior.
Noah dormia ao lado dela, virado para o outro lado, o peito subindo e descendo num ritmo sereno demais para caber na dor que ela sentia.
Ela ficou observando por um tempo — os traços tranquilos dele, o leve movimento dos cílios.
E sentiu culpa.
Uma culpa densa, amarga.
Por não ser capaz de corresponder à doçura que ele lhe oferecia sem pedir nada em troca.
Levantou-se em silêncio, os pés descalços tocando o carpete frio.
Foi até a janela. A cidade acordava devagar, cinza e cansada.
A mesma São Paulo que, há poucas horas, testemunhara Apolo à sua porta, encharcado, implorando por uma chance que ela não sabia mais se podia dar.
O som dos lençóis se mexendo a fez virar-se.
Noah estava acordado, os olhos fixos nela.
— Não dormiu —