Acordei com o som mais característico de Monte Verde: o grito esganiçado e insistente das galinhas d’angola. Era como se elas tivessem feito um coral desafinado para lembrar todo mundo que o dia tinha começado — gostando ou não.
— Tô fraca! Tô fraca! — gritavam elas pelo quintal, com um desespero que parecia cômico, mas... completamente compreensível.
Abri a janela e observei uma delas, meio descabelada, se é que galinha pode ser descabelada, andando de um lado para o outro com ares de quem já tinha desistido da vida cinco vezes só naquela manhã — e mesmo assim seguia firme, marchando como uma soldada cansada.
— Adoro essas galinhas d’angola — murmurei sorrindo, sentindo Zeca abraçar minha cintura por trás de mim e depositar um beijo no meu ombro. — Ficam gritando "tô fraca" o dia todo, mas continuam andando e seguindo, porque não tem mais o que fazer. Me identifico.
Espreguicei os braços e falei continuei:
— Eu vivo dizendo "não aguento mais", e continuo aguentando dia após dia. Duas