O sol já começava a se esconder atrás das montanhas quando me sentei na varanda com o caderno no colo e uma caneca de chá nas mãos. A brisa de Monte Verde era diferente no fim da tarde — tinha cheiro de terra úmida e alguma coisa que lembrava saudade. As palavras finalmente voltavam a me visitar, aos poucos. Não em enxurradas, como antes, mas em gotas pacientes, como a chuva fina que amolece o solo seco.
Ouvi passos na trilha de pedra. Não precisei levantar os olhos para saber quem era.
— Achei que você não fosse se despedir — falei, ainda encarando o papel em branco.
— E perder a chance de tomar um chá ruim na sua varanda? — ele respondeu, com aquele sorriso torto de sempre.
Levantei o olhar. Lucas estava ali, com a mochila pendurada num ombro, os cabelos bagunçados e o olhar leve — mais leve do que nos últimos dias.
— Estou voltando pra São Paulo amanhã — disse, se encostando no batente da varanda. — Vim agradecer. Por tudo. E... esclarecer o que talvez tenha ficado mal entendido.
F