Voltar para a empresa parecia simples enquanto eu ainda estava no carro, olhando pela janela, tentando ignorar a sensação de que alguma coisa dentro de mim se descolava lentamente da realidade. Mas assim que meus pés tocaram o chão do prédio, algo no ar mudou. Uma pressão invisível começou a se fechar ao redor do meu peito, como se cada parede tivesse olhos. Como se cada passo que eu desse ecoasse algo que eu não deveria ouvir. Eu respiro fundo. Tento me convencer de que é só trabalho. Só números, só documentos, só rotina. Mas desde que acordei naquela mansão, nada mais parece “só” alguma coisa.
Carlos está me esperando logo na entrada do corredor. Ele sorri como se fosse natural me ver ali, como se não tivesse nada de estranho no fato de eu ter reaparecido depois de meses perdida, dopada, confusa. Um sorriso político. Um sorriso treinado.
— Bom dia, Alice — ele diz, ajeitando os óculos. — Temos muito a revisar hoje.
Eu apenas aceno. Minha garganta parece feita de vidro.
Seguimos até