Narrado por Zalea Baranov
Os dias escorreram lentos desde que minha pele conheceu os punhos de Ivan. O corpo, marcado por hematomas sombrios, tornou-se um mapa da dor, e cada respiração se tornava um ato de coragem. Havia algo quase poético naquele sofrimento — como se meu corpo estivesse aprendendo a conversar com a dor em silêncio. Mas nem isso era libertador. Era apenas mais uma cela, mais um açoite invisível.
A casa sussurrava em vozes baixas, e eu, sua prisioneira, escutava tudo do fundo do meu quarto. A luz filtrada pelas cortinas pesadas parecia hesitar antes de tocar minha pele. Nada ali era leve. Nem a luz, nem o tempo, nem a memória.
Dione era a única sombra que não me assustava. Silenciosa, macia como neve recém caída, ela se aproximava com mãos cuidadosas e palavras que não ousavam ferir. Não a compreendia. Talvez fosse mais uma peça no jogo de Ivan. Ou talvez… talvez ela também fosse uma prisioneira de aparência livre.
Naquela manhã, a maçaneta girou com um lamento suave