A névoa persistia, mesmo com os ventos de primavera varrendo os campos. Era como se os antigos sussurros recusassem se calar. Lia observava as montanhas ao longe da torre de vigia da vila, sentindo o frio no estômago que não vinha da altitude, mas da proximidade do desconhecido. Algo se movia além das fronteiras.
Etan subiu os degraus devagar, com uma bandeja nas mãos. Chá de raízes e mel, como Lia gostava. Ele a conhecia bem o suficiente para não dizer nada até que ela rompesse o silêncio.
— Eles estão vindo — ela murmurou, sem se virar.
Etan colocou a bandeja sobre a mureta de pedra.
— Os Clãs?
— Sim. E não só os exilados. Helena ouviu vozes entre os ventos, de outros territórios. Clãs antigos, distantes. Peles pintadas, olhos vermelhos, líderes que acreditam que fomos longe demais misturando humanos ao nosso sangue. Eles vêm para apagar isso.
Etan apertou o maxilar.
— Podemos impedi-los. A Vigília está pronta. E temos aliados.
Lia olhou para ele, os olhos multicoloridos faiscando.