Dante Morelli
O toque do telefone cortou o silêncio da madrugada como uma lâmina. Eu estava na sala do meu escritório, a mesma que desde ontem parecia um cárcere voluntário. Mapas impressos, fotos e anotações cobriam a mesa e parte do chão. Não tinha dormido, não tinha comido. Desde que Beatrice desapareceu, cada segundo parecia uma ameaça.
A tela do celular piscou com um número desconhecido. Atendi sem pensar.
— Morelli.
Silêncio. Depois, um clique seco. A tela mudou para uma imagem de vídeo. O coração disparou.
Ela estava lá. Beatrice.
Sentada no chão, roupas coladas ao corpo, cabelo molhado, a pele pálida demais. Mesmo na qualidade ruim do vídeo, pude ver que ela tremia. A luz era fraca, e atrás dela havia uma parede suja de concreto.
— Beatrice… — murmurei, como se ela pudesse ouvir.
Nenhuma palavra saiu de sua boca. Mas os olhos… havia algo neles. Raiva, medo, e algo mais. Algo que me chamava como um código silencioso. Eu conhecia cada expressão dela, e aquilo não era apenas dor.