A lembrança de tudo voltou como uma maré.
Ele então completou, num tom mais baixo, quase um desabafo:
— Eu suportei tudo sozinho, Sophia. A dor, o medo, as crises. E no meio disso... você me deixou.
As últimas palavras vieram abafadas, como se fossem mais para ele do que para mim.
Eu não consegui responder. As lágrimas subiram aos meus olhos.
Olhei para ele, trêmula. O coração parecia se despedaçar dentro do peito.
Zahir estava pálido, e o sofrimento estampado em seu rosto me fez sentir a pior das criaturas.
— Nós iremos morar com sua mãe? — perguntei, a voz quase inaudível, tentando fugir daquele nó de culpa.
Zahir se virou de costas, caminhando até a porta aberta da sala. O ar noturno entrava pesado, misturado ao cheiro de maresia. Ele acendeu um cigarro com a cigarrilha de ouro e tragou fundo, o rosto mergulhado na penumbra.
— Desde o dia em que você me deixou — disse, com um tom grave e resignado —, eu me afastei de todos. Não falo mais com minha mãe, nem com Bashir. Moro sozinho, em uma cobertura no centro de Londres.
Se